terça-feira, novembro 29

Rompendo a Hierarquia, Ordem e a Disciplina

Desde o dia 23 de novembro (Quarta feira) a Polícia Militar do Maranhão e Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão de forma heróica e histórica estão fazendo a greve por tempo indeterminado por causa da intransigência do Governo do Estado que se recusa a dialogar com os policiais e bombeiros.
Não pensem vocês que eu exalto a polícia, porque eu reconheço que a mesma é o órgão repressor do Estado sobre a sociedade principalmente aos mais pobres e excluídos, muitos não vêem com bons olhos essa greve dos policias por causa da violência praticada a população, quem não se lembram do caso pedreiro José de Ribamar Batista que foi morto por policiais por supostamente não ter pagado o posto de gasolina após encher o tanque do seu carro e em seguida fugir até ser capturado (Versão da policia)?
Eu tenho motivos suficientes para não confiar na corporação e muito menos das pessoas que fazem parte, mas tenho amigos policiais principalmente do curso de História da Universidade Federal do Maranhão que eu os conheci especialmente da minha turma 2004.2, e eles sabem do meu posicionamento em relação à PMMA, até o momento da minha vida nunca fui vítima da violência policial, mas fui abordado de forma arbitrária e com abuso de autoridade.
A forma truculenta e repressiva que agem os homens e mulheres da polícia ajudou a construir a imagem negativa e contestação da sociedade, sendo compreensível o não apoio e a indiferença de alguns setores da sociedade sobre a greve e colocando-se contra os mesmos diante do caos que se encontra a segurança pública no estado.
Mas deveremos ter a compreensão que por trás das fardas, são homens e mulheres, pais e mães de família, o risco que corre o trabalhador ou trabalhadora ao sair de sua para o trabalho e não voltar no final do dia por causa da violência das grandes cidades, seja por bandidos ou pela policia, é a mesma sensação sentida por estes homens e mulheres que usam a farda, sendo que são também mal vistos por bandidos, porque se cair nas mãos deles, terá a sua vida ceifada, porque o papel da polícia é matar bandido, havendo aí uma eterna “rixa” entre eles.
A sociedade está cansada de saber da violência praticada pela policia, mas não sabem o que eles passam nos quartéis e muito menos nos subterrâneos, onde são explorados e humilhados por seus superiores sendo tratados como animais, a dignidade humana é uma palavra inexistente nos quartéis militares.
Os homens e mulheres são treinados para ser uma espécie de máquinas, como na série americana que fez sucesso nos anos 1990, o Robocop, fazendo serem tratados dessa forma pra colocar a sua vida em risco com a carga horária excessiva com a remuneração baixa e sem a proteção e armamento devidamente assegurados.
A relação entre o Estado e a Polícia Militar é comparado com o dono e o cachorro, em que o cachorro está sempre a disposição para proteger o seu dono, a família do dono e toda a propriedade privada, em troca muitas das vezes é o que se vê é o dono tratar o seu cachorro da forma mais degradante e humilhante e mesmo assim muitas das vezes o animal está sempre a disposição do dono, demonstrado lealdade e fidelidade, tornando-se o melhor amigo do homem.
Essa é a relação do Estado com a Polícia Militar, que sempre esteve a serviço da manutenção da ordem e da propriedade privada, mas nunca foram reconhecido por prestar esses serviços, exceto a alta patente da corporação, a Polícia Militar do Maranhão foi fundada/instituída no século XIX justamente no período em que o Brasil e o Maranhão viviam num regime monárquico-imperial-escravista, com a sociedade quase estamental em que a minoria privilegiada sempre esteve no poder e usufrui das benesses do Estado.
O estado que historicamente sempre foi governado por grupos políticos oligárquicos, a PMMA sempre foi usada como instrumento de interesses da classe política e reprimir qualquer insatisfação popular, numa repleta troca de favores.
A Polícia Militar do Maranhão, dos demais estado da federação e próprio exército, marinha e aeronáutica são as instituições que não mudaram com o passar do tempo, o Brasil hoje vive um momento político muito diferente ao que era nos séculos anteriores e num passado recente, em que a democracia é o sistema vigente com o caráter republicano.
Mas esses órgãos de repressão vivem como se estivessem nos séculos anteriores ou no passado recente com as mesmas práticas, lembro-me ano passado no período das eleições para Presidente da República e Governador dos Estados um debate que eu assisti onde estavam todos os candidatos, inclusive a atual Governadora do Maranhão, e fizeram uma pergunta ao candidato Marcos Silva do PSTU o que ele faria na segurança pública caso ele fosse governador, o mesmo respondeu que iria humanizar a polícia, muitos viram como deboche porque muito amigos meus de faculdade que eu conheço com formação marxista não acreditam na humanização dos policiais, e ironizaram pelo fato do Marcos ser da mesma vertente política e ideológica.
A idéia de propor a humanização da polícia não deixa de ser interessante, porque o modelo de segurança pública imposto pela elite dirigente dos órgãos são arcaicos e ultrapassados, não condiz com o regime democrático e republicano. É necessário o debate a que tipo de segurança pública que queremos, porque a idéia de humanizar os policiais não será feito num passe de mágica e é a curto, médio e longo com a participação de todos os segmentos e esfera da sociedade, não apenas entre o Estado e própria policia.
A greve da Polícia Militar do Maranhão é louvável e heróica, porque quebra um dos principais pilares que sustenta a hierarquia, ordem e a disciplina: a proibição de fazer greve.
Algo que talvez nunca ocorreu na história do Maranhão,as reivindicações não se resume apenas ao reajuste salarial como gosta de afirmar a imprensa para dar impressão a opinião pública que a exigência dos mesmos se resume somente a isso.
A reivindicação policial está mais associado a dignidade humana, como eu disse anteriormente, essa palavra inexiste nos quartéis militares,e as reivindicações além do reajuste salarial e reposição das perdas salariais dos anos anteriores são:
- Regulamentação da carga horária de serviço nos termos previstos na constituição federal do Brasil de 1988;
- Implantação da carga horária de serviço nos termos previstos na constituição federal do Brasil de 1988;
- Fim da aplicação do regulamento disciplinar do exército para policiais e bombeiros militares do Maranhão;
- Garantia de promoção de policiais e bombeiros por tempo de serviço previsto em lei (pela meritocracia para os cargos e o fim da indicação política);
- Eleição da lista tríplice para o Comandante Geral com a participação de todos os integrantes da cúpula da PMMA e CBMA (maior autonomia a Polícia e aos Bombeiros);
- Anistia e o fim de represália a policiais e bombeiros envolvidos no movimento.
Como vimos, essas reivindicações rompem a velha estrutura vigente na policia e no corpo de bombeiros, deixando o governo do estado atônito porque subestimou a manifestação dos militares, é como o cão mordesse o seu próprio dono, sendo que o mesmo nunca imaginaria que o seu animal teria a coragem de mordê-lo, a Polícia Militar que historicamente sempre serviu de cão de guarda ao estado e a classe política, resolveram dar um basta nessa situação.
Cansados de serem explorados e humilhados pelo governo e seus comandantes, onde o serviço prestado pela segurança do governo é precário em que nos últimos tempos o que se viu foram as rebeliões que resultou de muitas cabeças decepadas, e todo o serviço é precarizado inclusive o IML (Instituto Médico Legal).
A Governadora Roseana Sarney demonstrou mais uma vez que não tem capacidade de estar a frente do governo, não tendo a mesma inteligência e a sabedoria do seu pai (José Sarney) que o colocou no governo através do golpe via judiciário em 2009 que resultou na cassação do ex-Governador Jackson Lago, o que se vê é a família Murad governando o estado, sendo governadores de fato como o secretário de saúde Ricardo Murad (cunhado da governadora) e o Jorge Murad (marido da governadora e irmão do secretário de saúde), e ela numa espécie de fantoche e com arrogância de querer se recusar a dialogar com a categoria.
E solicita os homens do exército e da Força Nacional, no intuito claro de não querer o diálogo e usar a força pra reprimir o movimento, a presença do exercito é falsa, pois o contingente de homens é insuficiente para a cidade de São Luís e todo o estado, sendo que a maioria dos soldados são jovens de 18 a 21 recrutados que recentemente foram alistados, os mesmos não tem preparo nenhum para lidar com a população nas ruas e principalmente no cotidiano.
Jovens esses armados de fuzis, quem conhece sabe o poder de destruição que causa o tiro dessas armas, causando danos irreparáveis no corpo da vitima, podendo atingir mais pessoas envolta devido ao alto poder de destruição. O governo do estado é o próprio responsável por esses caos que está vigorando no nosso estado. E a greve dos policiais e bombeiros são legitimas.
Porque são trabalhadores também, que são constantemente explorados e humilhados, sendo tratados como animais ou o ROBOCOP. A policia e os bombeiros precisam rever conceitos e rediscutir junto com a sociedade o modelo de segurança pública.

6 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom seu texto!
Nice

William Washington de Jesus disse...

Muito obrigado querida.
Obrigado pela participação.
Mas estou aberto ao debate e as críticas.

Anônimo disse...

Concordo plenamente com você que a Policia Militar do Maranhão necessita de uma reestruturação em toda sua sistemática, haja vista o atraso que a mesma se encontra em relação a outros estados brasileiros, porém não concordo quando você cita aqui que os mesmos não só estão em busca do aumento da remuneração, mais também da melhoria da sistemática da corporação, a tal da humanização, particularmente venho observando as negociações e em momento algum vi a frente gravista citar essa humanização que acho extremamente necessária. o aumento de 30% sim ta sendo explicitado aos quatro ventos, aumento esse que registro aqui caso seja acordado nunca irá melhorar em nada nossa mediocre segurança publica, quem deseja humanização que brigue por humanização, porque remuneração para um serviço de segurança mediocre eles já possuem.

Natan Castro.

William Washington de Jesus disse...

A idéia de humanizar a polícia Natan é da sociedade, a mesma deve participar ativamente nesse debate. E não deixar com o Estado e a própria Polícia.

Anônimo disse...

PM PROFESSOR DE HISTÓRIA
A GREVE DA PMMA TEVE INÍCIO E DESFECHO MUITO SEMELHANTE A DE POLICIAIS CIVIS E DE PROFESSORES: NO INÍCIO, FAZEM INÚMERAS REINVINDICAÇÕES EM PROL DE MELHORIAS ESTRUTURAIS QUE DARÃO CONDIÇÕES DE UM SERVIÇO MAIS EFICIENTE PARA A SOCIEDADE. DEPOIS QUE CONSEGUEM UM AUMENTO SALÁRIAL - O VERDADEIRO OBJETIVO DA GREVE - ESQUECEM AS DEMAIS REINVIDICAÇÕES. A IMPRESSÃO QUE FICA É QUE AS COBRANÇAS POR MELHORIAS ESTRUTURAIS SÃO POSTAS EM PAUTA SIMPLESMENTE PARA CONQUISTAR O APOIO DA SOCIEDADE E, QUANDO CONSEGUEM O AUMENTO SALARIAL DESEJADO, ISSO É ESQUECIDO. PROFESSORES E POLICIAIS CIVIS TAMBÉM FAZEM ISSO. AUMENTO SALARIAL É IMPORTANTE E NÃO HÁ QUEM NÃO QUEIRA, ENTRETANDO, ISSO POR SI SÓ NÃO MELHORA QUALIDADE DO SERVIÇO PRESTADO. SOU PM E QUERO GANHAR MAIS. PORÉM, PREFERIA NÃO RECEBER ESSE AUMENTO E TER COLETE, ARMA E BOM TREINAMENTO (COISA RARA NA PM). DE QUALQUER FORMA, FOI UM PASSO IMPORTANTE: MOSTRAMOS QUE NÃO SOMOS MAIS TÃO SUBMISSOS QUANTO NO PASSADO.

William Washington de Jesus disse...

Procedente o seu comentário, infelizmente a questão salarial sempre fica prioritária em relação as outras questões e esquecendo da sua verdadeira função que exerce que precisa de apoio e estrutura para trabalharem.
Obrigado pela participação.