quarta-feira, fevereiro 6

Livre como um Pirata - Cap. 2



Eu me lembro de quando a gente se mudou e eu fiquei puto por que a vovó tinha te deixado com outra família. Isso não se faz! Os infelizes cobraram vinte reais para te devolver. Vinte reais! Como se você fosse comprável (ou vendável)! Mas enfim, nós fomos juntos no caminhão da mudança, e você ficou nervoso e confesso que me machucou um bocado com seus ataques, mas nada que eu não pudesse suportar. Daí, pela primeira vez, você pôde ter um pouco mais de espaço para esticar as pernas, já que aquele quartinho que a gente morava não foi feito para acomodar tanta gente. Foi nesse momento que você conheceu aquele menino negrinho, que ninguém sabia o nome, nem de onde vinha, e acabou ficando para morar com a gente. Daí eu tentei colocar vários nomes nele, mas ele só respondia por Negão. Pode soar preconceituoso, mas você sabe que ele não liga. Ao contrário de você, Pirata, o Negão era um menino forte, comilão e meio abobalhado também. À medida que você crescia, ia ficando mais rabugento, mas eu acho que é por que ninguém te dava muita importância, apesar de ser o único valente da casa. 

Tammys

Um comentário:

Anônimo disse...

Me lembro muito dele, de como era pequeno quando vocês o pegaram e como corria com as patas traseiras abertas, de uma vez que ele dormiu no meu colo quando veio passar um fim de semana na minha casa. Lembro que ele devorava uma mamadeira de leite em menos de 10 segundos e nunca engasgava, incrível! Pirata foi crescendo e ninguém conseguia pegá-lo, ele não obedecia ninguém. Quando fugia do beco da casa da Dona Socorro, era a maior luta pra colocar lá dentro de novo... Até que, numa dessas, ele mordeu você. Mas não foi por maldade, eu acho.
O bichinho ficou debilitado com o tempo, espero que não tenha sofrido antes de morrer.
Ele deve estar bem no céu dos cachorros.