Tem
esses caras que estão de saco cheio de tudo. Eu era um desses. Existem muitos
assim, por aí. Essa noite não me sentia bem. Quando lembro dos sonhos que tenho
sempre me sinto mais maluco do que o normal. Acho que é impossível ser
completamente diferente de todos. Assim como não da pra escrever um livro sem
que haja outro parecido. Não da pra pensar demais sem ficar dando loops
infinitos. Estes loops me estonteavam, me sentia caindo girando num poço úmido
feito de pedras; naturalmente, estava o tempo todo com essa sensação de
desconforto — mas foda-se, sentir-se confortável é um sintoma de morte. Se você
é incapaz de ouvir lobos uivando toda semana, é um sintoma de morte. Se não
sente sua cabeça pesada, como se houvesse um machado enorme de um lenhador
descendente de Nazistas do Rio Grande do Sul cravado na parte de trás do seu
crânio; Se não sente constante vontade de morrer, está morto; A vida como um
amontoado de percepções. Conversas com aranhas que moram na parede do banheiro.
Livros intermináveis. O sangue no espelho. Videogames. Amor. — Amor também é
uma ilusão, a única que vale a pena (até mais que o álcool). Trabalhar num
supermercado. Ver caras roubando cachaça no supermercado e quando seu chefe
perguntar porque você não disse nada, dar uma resposta certa e firme. Estar
cheio de dúvidas. Mulheres suicidas em mesas de bar. Autossabotagem. Tristeza.
Angústia. Ânsia de vômito. Parecer feliz. Feliz! A dor nos olhos, por não
dormir. Música eletrônica. Parecer perdido. Não parecer perdido. A rua. O sol
piscando entre as grades do quintal da fábrica de pedras. Olhar pro céu e levar
concreto nos olhos. É só a vida. Não que eu dê bola. Só quero escrever.
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