Sua
amiga. Na verdade nossa amiga veio aqui. Aqui. Quero dizer aqui em casa e disse
que você queria conversar sério comigo. Conversar sério. Como conhecia bem você
(sei que é um pouco ou demais pretensioso dizer que conheço bem você ou que
conheço bem alguém) tentei especular que era algo que envolvia sentimentos,
emoção, lado afetivo, coração, paixões frustradas, sexo desastrado,
expectativas amorosas. Acho pouco provável que sua mestruação atrasou, a
camisinha estorou ou tem dores no baixo ventre. E tenho menos certeza que quer
se matar porque já se matou outras vezes. No máximo espertar as mãos com um
lápis pontiagudo quando está down.
Liguei
pra você deitado na desarrumada cama minha e abri a janela com a ponta dos pés
e você perguntou do outro lado da linha com sua voz ansiosa e expirações fortes
e repentinas e consigo sentir presumir ir no seu coração batendo acelerado tun
tun tun tun tun tun tun:
- O
que foi!? - Nem falou “alô” como os normais.
Então
falei de nossa amiga que veio aqui hoje pela manhã e disse que você queria
falar comigo algo de importância, sério. Você
então perguntou se eu tinha encontrado o filme que me emprestou. Não – respondi
e perguntei se era isso a coisa tão importante. - Sim.