Diego Pires entrevista por via email o maranhense Lucas Sá morando e estudando Cinema em Pelotas no Rio Grande do Sul.
Por quê Cinema? A qual sabemos que o Maranhão historicamente não tem uma tradição com a sétima arte e muito menos tem um curso de graduação.
Bom, comecei a me interessar pelo cinema se não me engano aos 11 ou 12 anos, durante minhas tardes ociosas quando eu voltava da escola e ia constantemente a uma locadora de vídeos perto de casa, nesse período via um filme por dia, mais ou menos, principalmente nos dias de terça e quarta, já que havia promoção! Acho que foi uma forma de completar a falta do que fazer ou de com quem conversar. Completar a falta... Com os anos eu fui me educado filmicamente e fui me interessando pelos clássicos e filmes mais intimistas, e assim fui percebendo a “farsa” do cinema e isso me fez querer seguir esse caminho. Até hoje fico empolgado e até arrepiado de ver nos extras, dos DVDS que via, os making off dos filmes, é fascinante! O Maranhão tem uma relação com o cinema, de certa forma, bem tímida, tivemos o movimento do Super 8 e alguns cineastas de renome, como Murilo Santos. O Festival Guarnicê também é o maior vinculador da sétima arte e um dos mais antigos festivais de cinema do Brasil, talvez isso seja um bom motivo para o governo implementar cursos da área em nosso estado, já que isso mostra nossa ligação com o cinema nacional há tempos. Mas quem atualmente eleva o nosso estado à produção e até mesmo ao comércio cinematográfico é o diretor e empresário Frederico Machado, dono da locadora Backbeat e da distribuidora de DVDS Lume Filmes. Frederico é um exímio exemplo de figura ao qual tenho admiração, os DVDS da Lume são de incrível qualidade e conteúdo, sendo uma das distribuidoras mais bem sucedidas do Brasil, seus curtas, como o “Vela ao Crucificado” levam nossa cultura a inúmeros festivais nacionais e internacionais. Aliás, esse mês (dia 14 de Julho) vai ocorrer a abertura da 1º edição do Festival Internacional Lume Filmes, organizada pelo Frederico, com a presença do diretor Filipino Brillante Mendoza, onde ocorrerá a exibição inédita no estado de seu novo longa “Lola”. Pena não poder está a ir, Mendoza é um dos meus diretores preferidos! “Kinatay” é sensacional! Cinema forte e cru!
Como está sendo a graduação em cinema na UFPEL (Universidade Federal de Pelotas)?
Até o momento estou me sentido muito bem com o curso. Os equipamentos são ótimos e os professores são excepcionais! É interessante, já que todos dizem que os primeiros semestres no curso de cinema são mais teóricos e massivos, aqui não percebo isso, a dose entre prática e teoria é balanceada, o que torna o curso mais ativo e conceitual. Reforçando este argumento, já realizei um exercício de aula, que no caso era para ser produzida uma recriação de uma cena de um longa, eu escolhi uma cena do filme “Amores Imaginários”, do Xavier Dolan (http://vimeo.com/24500131) e também realizei dois curtas-metragens, um chamado”7-10-8-3” e o “Na Bolha”. Esse último a equipe acabou de finalizar a edição! Estou escrevendo essa entrevista no momento em que terminamos a edição na casa do nosso editor! E para o mês de setembro estamos produzindo um documentário sobre o sambista Dudu Borba, já começamos a coletar entrevistas e a fazer planilhas de produção. Tudo isso apenas no 1º semestre.
Como é um maranhense fazendo um curso tão “distante” para nossa realidade no Rio Grande do Sul? Como encara isso? Como seus amigos de graduação te olham? Como está sendo a adaptação?
Venho implantando essa idéia de fazer o curso de cinema na cabeça dos meus pais desde muitos anos atrás, então para mim foi fácil me desvincular da “prisão emocional” de não me deixarem ir embora. Eles me apóiam bastante e agradeço muito por isso! Minha relação com o estado é bem comum, nada muito diferente ou irregular, achei que seria bem mais “freak” me acostumar com o ambiente e as pessoas, mas me enganei. O clima é que me irrita um pouco, este frio é meio incômodo para quem viveu no calor infernal de São Luís, você me entende... Mas comecei a recolher e aprender certos dribles para não morrer de frio, uma delas é ferver água e colocar dentre de uma garrafa pet(conselho do Daniel Reigada), dessas de refrigerante, é uma saída bem caseira enquanto não tenho aquecedor, mas ajuda! A relação com os alunos é tranqüila, mas chega a ser até engraçada, já que é uma mistura de vários estados, desde Minas Gerais até São Paulo capital e seus interiores, tendo alunos daqui de Pelotas e cidades vizinhas. O Enem possibilitou muita mobilidade entre os estados, esse é o grande motivo da miscigenação da nossa sala, que é até vantajosa para nós! É interessante mencionar a diferença de idade entre os alunos, passa por 28 até 17 anos, e essa diferença quase não é percebida em termos de conteúdo, já que nosso relacionamento profissional e social é focado no cinema para o cinema.
Quais suas referências?
Bom, ontem na viagem para Porto Alegre minha professora de roteiro, Cintia Lagie, disse ao ler um argumento de um curta que pretendo realizar no próximo semestre, que minha relação com os personagens é o de revelar a natureza cruel e má do homem. Nunca tinha reparado muito bem nisso, mas ela tem razão, às vezes, eu me apego tanto à estética e que me desligo do conteúdo inicial dos meus curtas. Voltando as influências propriamente ditas, eu tenho como referência quase que endeusada os diretores Brian De Palma, Quentin Tarantino, Park Chan-wook, Wong Kar Wai. O Brillante Mendoza que comentei na primeira pergunta, é um dos diretores novos que estou me apegando bastante. Se eu fosse citar certos filmes como preferidos, acho que no momento seria a versão de 1974 do filme “O Homem de Palha”, de Robin Hardy. Um grande filme!
Pensas em voltar pra sua terra natal com seu diploma?
Não. O Maranhão precisa valorizar melhor não só o cinema, mas a cultura em geral do estado. Percebo que aqui no Rio Grande do Sul e no mês que fiquei na Bahia as pessoas são ligadas intimamente com suas culturas, aqui no RS principalmente, chega a ser até rigoroso esse apego, mas muito bonito! Sinto falta disso nos maranhenses, eu mesmo acabo de admitir ser um dos que não me envolvo, que não me apego ao estado. A não ser para visitar minha família.
Uma mensagem/dica/sugestão para os maranhenses que querem estudar cinema.
Pelo visto vai demorar o curso de cinema se instalar em alguma instituição de ensino no Maranhão, então prefiro dizer pra quem tenha esse desejo/objetivo, não sei bem qual das duas é a palavra certa, faça o curso! Mesmo que seja perto ou longe de sua cidade. As aulas para mim, nunca foram tão “divertidas” e utilitárias como estão sendo agora, fato que no ensino médio foi praticamente abolido.
Assista os Curtas Metragens de Lucas Sá:
YOU BITCH DIE!!! – http://www.vimeo.com/16282540
VERBENA E LIMÃO - http://www.vimeo.com/16288971
ABATE – http://www.vimeo.com/20036560