Pirata, meu amigo,
nada pode descrever o medo que eu estou tendo agora de voltar pra casa e não te
ver mais. Há uns meses atrás, você sempre corria ao portão com o ímpeto ou de
nos receber ou de expulsar as visitas. Você não possui mais forças para isso
agora... Mal consegue se manter de pé. E eu nem consigo imaginar que tipo de
dor você sente. Se pudesse, a compartilharia contigo, velho amigo. E eu fico
pedindo para Deus que tenha me enganado quanto ao sangue na sua saliva, afinal
estou mesmo precisando trocar os meus óculos. Mas você está tão fraquinho...
Mal abre os olhos. Eu só queria que você se sentisse amado por mim, então, se
puder, por favor, me envie algum sinal, mesmo que seja do além, para dizer que
me perdoa e que eu não te magoei tanto assim... Eu não quero ter que te
enterrar, mas assim o farei se for preciso.
Disseram que seria melhor
recorrer a eutanásia. Que você estava sofrendo demais, que você não merece
isso. Ponha-se no meu lugar, meu amigo. Num peito amigo sempre há esperança. Se
o pior acontecer, eu não poderei estar ao seu lado nos seus últimos momentos, e
muito menos registrá-los por escrito. E nesse exato momento os meus fones tocam
“To Wish Impossible Things” do The
Cure. Isso não é nada animador, eu sei. Mas mesmo que seja impossível, eu
desejei te ver bem antes de tudo. Eu nem me importaria mais com a sua baba, nem
com o seu mau cheiro, se você simplesmente se curasse e suas forças retornassem
e com certeza seria uma festa lá em casa. Eu te abraçaria como nunca te abracei
e choraria nos seus ombros e você ficaria com cara de besta sem entender nada,
mas também não iria se incomodar com a situação. Mas eu tenho aquele
pressentimento terrível de que quando eu chegar no teu quarto eu não vou mais
sentir a tua presença e vai ficar um vazio só, não apenas no quarto, mas na
casa, na rua, no bairro e na minha triste vida.
Tammys