Ilustração de Klyssya Martins
Hoje
eu decidi visitar aquele nosso refúgio. Aquele quartinho dos fundos carregado
com tralhas e lembranças...
Estou nesse exato momento acomodado
num canto daquela cama ortopédica desconfortabilíssima, mas você parece não se
importar e dorme como um anjo bêbado, enquanto eu reclamo de dor nas costas e
ameaço ir dormir no chão, pra variar.
Quando entrei, fiz questão de deixar
a porta entreaberta e a luz apagada. Notei que, muito curiosamente, o
ventilador apontava para o teto, como se detectasse algo suspeito. Agora ele
está no local de onde nunca deveria ter saído: sob a tábua de passar roupas.
Ligado sempre na velocidade dois, já que a três é forte demais e me irrita
profundamente ao jogar as folhas de papel à mercê da gravidade. A velocidade um
me irrita também porque é tão ridiculamente fraca que me faz desejar um leque
de senhora.
Falando no ventilador, o café fica
acomodado fora do seu ângulo de alcance, para que sua temperatura se mantenha
alta e agradável por mais tempo. Lembra do cheiro do hálito impregnado com o
café? É exatamente esse o que toma as dimensões do quarto a cada exercício de
respiração que eu faço. O aroma forte e marcante, exatamente como o gosto. Assim como tudo deveria ser: forte e
marcante. Como em DayTripper.