No
primeiro semestre neste ano aconteceram duas execuções de morte envolvendo
brasileiros a mando do próprio estado, e não foi o estado brasileiro que
praticou a execução, foi o estado indonésio no outro lado do mundo em que os
brasileiros Renato Archer e Rodrigo Gularte foram executados.
Essa
execução foi aplicada por condenação penal, ou seja, pena de morte, na Indonésia
o crime de tráfico de drogas é sumariamente condenado à morte por fuzilamento
de acordo com a lei do país, e a maioria da população local apoia essa lei e a
condenação com pena de morte.
A
comunidade internacional através da imprensa, organizações como a ONU
(Organização da Nações Unidas), chefes de estado como o presidente da França
François Holland, da Austrália, Filipinas, Inglaterra com o primeiro ministro
David Cameron, Holanda e outros chefes de estado foram contrários a pena de
morte dos dois brasileiros e outros estrangeiros por tráfico de drogas.
E
por outro lado, várias pessoas foram favoráveis a pena de morte, inclusive aqui
no Brasil, classe política de alguns segmentos como o Jair Bolsonaro foi favorável
a execução dos traficantes na Indonésia, e aproveitou o contexto para
justificar a prática da pena de morte no Brasil.
O
outro fator que acirrou a discussão entre os prós e os contra a execução dos
dois brasileiros condenados, é que os mesmos foram flagrados portando quilos de
cocaína dentro de uma prancha de surfe no aeroporto do país, e passaram dez
anos presos respondendo pelo crime, foi o pedido de clemência do governo
brasileiro nos governos Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006/2007-2010) e Dilma
Roussef (2011-2014/2015-2018), esta última a atual presidente.
Muitos
criticaram a postura do governo por estar defendendo os dois traficantes, eu
não entrarei no mérito de ter acertado ou não em defender a vida dos
traficantes, porque antes de qualquer coisa, devemos compreender que atitude do
governo brasileiro ser contrário a execução foi devido o pedido das famílias
dos condenados que durante anos pediram ao Palácio do Itamaraty (sede do
Ministério das Relações Exteriores do Brasil) tomar o posicionamento na
tentativa de reverter a decisão do governo Indonésio.
A
presidente Dilma Rousseff é a chefe de estado, ela governa e representa não só
os brasileiros que aqui vive no país, mas também os brasileiros que vivem no
exterior, ou seja, ela não poderia de forma alguma ficar na neutralidade diante
da situação dos brasileiros, o governo do Brasil tinha a obrigação de
acompanhar de perto as investigações antes da execução, e de garantir a
reversão caso houvesse provas de eventual inocência dos mesmos.
A
presidente da república e o governo do Brasil agiu correto em tomar o partido
em favor dos dois brasileiros para averiguar o crime cometido, pedir clemência
ao governo indonésio através de cartas para que não houvesse execução por
fuzilamento e penalizar de outras formas sem tirar a vida dos condenados, não
significa intervenção do governo brasileiro e nem desrespeito a soberania
indonésia como muitos interpretaram.
Até
porque os Estados Unidos, União Europeia e a própria Nações Unidas costumam
enviar tropas militares aos países em conflito em nome da democracia e o
combate ao terrorismo, desrespeitando maioria das vezes os governos locais e a
soberania de um povo, e muitos encaram isso com naturalidade, portanto, é
cinismo e cara de pau acusar o governo brasileiro de intervir ou ferir a
soberania da Indonésia e seu governo.
E não
foi apenas o governo brasileiro tomou o partido, outros chefes de estado e a
própria Nações Unidas (ONU) foram também contrários a execução, o assunto sobre
a pena de morte está sendo bastante discutida em todo o mundo, especialmente na
Europa, e estão querendo abolir, enquanto no Brasil os desinformados,
manipuladores da informação e opinião e os lacaios travestidos de intelectuais
querem que a pena de morte seja implantado.
E
quero deixar bem claro aqui que eu não sou solidário aos traficantes
brasileiros, posso me solidarizar as suas famílias que não podem responder por
crimes, e estavam apenas protegendo o ente querido seu independente do ato
praticado.
E
antes de solidarizar a família dos traficantes, vou solidarizar as famílias e
especialmente as mães dos traficantes aqui no Brasil, especialmente nos bairros
de periferia em que os pobres e negros acabam sendo induzidos para o mundo do
crime e as suas mães mais tarde choram pelos seus corpos ensanguentados e
estirados no chão crivado de balas ou fuzil.
Eu
não critico a atitude do governo do Brasil em defender os brasileiros executados
na Indonésia, como também não condeno a ação do governo indonésio em executar
os réus por crimes de tráfico de drogas que no país é crime e passível a
execução máxima, ou seja, a pena de morte, e o mundo todo tem conhecimento
disso e obviamente os traficantes.
Nesse
episódio o que mais me enoja não foi o papel da presidente e muito menos do
governo brasileiro, pois os mesmos agiram com obrigações de uma chefe de
estado, representar e proteger os brasileiros no exterior, seguindo os trâmites
legais, diplomáticos e bilaterais que envolveu o governo de dois países, mas o
papel da imprensa brasileira em querer sensibilizar a opinião pública e incitar
os mesmos a ficarem contrários a execução dos brasileiros.
Renato
Archer e Rodrigo Gularte são de famílias de classe média alta no Rio de Janeiro
– RJ e Curitiba – PR respectivamente, estudaram nas melhores escolas, sempre
tiveram do bom e do melhor e nunca faltou nada para os mesmos, e mesmo assim
resolveram entrar para o mundo do crime.
O
mais revoltante foi o programa da TV Globo exibido aos domingos, Fantástico,
que deu cobertura no caso Rodrigo Gularte que retratou a vida do indivíduo
desde a sua infância, apesar de uma vida confortável, retratou que o condenado
sofreu com a separação e ausência dos pais e ter sido criado por parentes
principalmente avós, e ter sofrido muitas doenças entre elas a depressão que o
levou ao mundo das drogas, de usuário a traficante e posteriormente a
esquizofrenia, e usou isso para livrá-lo da execução, porque a lei do país não
permite a execução de pessoas que
apresentam doenças mentais, mas contudo foi em vão porque o governo alegou que
na época do crime praticado, o Rodrigo estava em sã consciência do seu ato.
A
matéria sensacionalista da emissora em comover a opinião e a sociedade em geral
sobre o caso, mostra o quanto a emissora e todas as outras são tendenciosas,
hipócritas e manipuladoras, onde a falta de ética e honestidade no mundo
jornalístico são regras.
Quantos
traficantes oriundos das periferias de todo o Brasil em sua maioria são pobres
e negros que desde a infância não tiveram oportunidade em estudar nas melhores
escolas, sofreram com ausência dos pais, famílias desestruturadas, falta de
oportunidades e convivendo com a violência e a criminalidade em suas comunidades
não tem as suas vidas ceifadas todos os dias em todo o país?
Quantas
mães e familiares não choram por seus corpos ensanguentados, estirados no chão
crivado de balas e fuzis? A imprensa retrata a vida desses traficantes para
sensibilizar a opinião pública?
De
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 77% dos
jovens na idade 15 a 29 anos são vítimas da arma de fogo, ou seja, morrem de
tiros motivado pela violência em razões variadas, seja pela polícia, criminosos
e traficantes, e este número apontado pelo instituto, as vítimas são justamente
os pobres e negros que vivem nas periferias onde a violência e o crime reinam
nas localidades que vivem.
A
mesma imprensa que tentou sensibilizar a opinião pública contra a execução dos
traficantes brasileiros na Indonésia, é a mesma que induz a opinião e a
sociedade serem favoráveis a pena de morte e reduzir a maioridade penal para 16
anos através dos programas policiais em que os apresentadores defendem
abertamente.
Apesar
da mortalidade dentre os jovens pobres e negros no país serem altíssima, de
acordo com o IBGE, a classe política quer reduzir a maioridade penal para
reduzir a criminalidade com balas e fuzis em vez de pinceis, quadros brancos e
garantir oportunidades aos jovens.
Renato
Archer e Rodrigo Gularte de acordo com a cor da pele, eram brancos e de famílias
branca, um detalhe mais interessante para a imprensa induzir a sociedade serem
contrário a pena de morte aos mesmos, enquanto defende a pena de morte e a
redução da maioridade penal aos ladrões de galinha em sua maioria pobres e
negros. Coincidência não?
Na
véspera da execução, uma das condenadas a fuzilamento junto com o brasileiro
Rodrigo escapou da morte porque horas antes uma pessoa compareceu à delegacia
para a inocentar a mesma, ela é da Filipinas que no momento não me recordo o
seu nome, passou anos alegando ser inocente e a justiça mesmo assim não
acreditou.
A
pessoa que compareceu à delegacia em seu depoimento disse que a cocaína havia
sido colocando dentro da sua mala sem ela perceber horas antes de embarcar da
Filipinas a Indonésia, se esta pessoa não fosse a delegacia para prestar o
depoimento e provar a sua inocência, seria executada sem conseguir provar a
inocência, mas afirmando ser inocente do crime não cometido.
O
estado indonésio livrou-se de cometer o maior de todos os crimes, o de executar
a pessoa inocente, Estados Unidos gradativamente está abolindo a pena de morte
em seus estados, porque o estado americano está reconhecendo que muitas das
vítimas foram condenadas inocentemente, e o processo de julgamento foi cometido
por sucessivas falhas pelos magistrados.
Um
dos casos evidente foi o caso de uma vítima mais jovem ser condenado a pena de
morte, ele tinha 14 anos e acusado de ter matado as duas crianças, no decorrer
do processo até a sentença, o jovem não teve direito ao advogado que lhe foi
negado, ficou incomunicável com a sua família e teve o direito de apenas ficar
calado durante o julgamento para que não fosse usado contra si.
Passados
mais de 70 anos, ocorrido nos anos 1940, eu não me recordo o nome da vítima (Me
desculpe!), a parente das crianças relatou que o jovem morto na cadeira
elétrica não foi o autor do assassinato das duas garotas, a família do jovem ao
tomar conhecimento começou a processar o estado e o processo reaberto para
averiguação, com a constatação da inocência do condenado, o estado reconheceu o
erro e consequentemente indenizar a família da vítima.
E há
um detalhe que deve ser colocado, a vítima condenada a morte nos anos 1940 aos
14 anos era negro (De novo William, lá vem você com história de racismo, achar
que tudo é racismo, você tem preconceito a si mesmo, auto preconceituoso e complexo
de inferioridade), e as duas crianças assassinadas eram meninas e brancas, os
magistrados que o julgaram com sucessivos erros em que a vítima não teve o
direito a defesa, foram motivados por racismo que também estava impregnado nos
poderes, inclusive no judiciário, caracterizando o racismo institucionalizado,
num contexto em que os negros dos Estados Unidos eram segregados através das
leis e o corte jurídica era praticamente formado por brancos. E este caso não é
isolado, há muitos casos semelhante ocorrido nos Estados Unidos ao longo dos
anos que estão sendo reinvestigado, e os réus condenados sendo inocentados,
estando mortos ou vivos.
No
Brasil apesar da morosidade e a impunidade em maioria dos casos do poder
judiciário, contradição das leis e da constituição federal, a lei garante ao
réu o direito à ampla defesa e a inocência até provar o contrário, baseado das
leis vigentes no nosso país, o Renato Archer, Rodrigo Gularte e os outros
condenados de outras nacionalidades tiveram de fato o direito à ampla defesa?
Porque
a filipina que seria condenada só escapou da morte por causa da testemunha,
será que ela também teve o direito de fato a ampla defesa mesmo estando presa
pelo crime que não cometeu? Não havia a possibilidade de as pranchas terem sido
trocadas? Pois tanto o Renato e o Rodrigo utilizavam as pranchas e dentro delas
foram encontradas a cocaína. Pois os mesmos tinham a plena ciência que no país
em que estavam o crime de tráfico de drogas é sumariamente combatido com pena
de morte pelo estado/governo. Será que eles seriam tão corajosos de portar
drogas nesse país sabendo da condenação num eventual flagrante?
Não
estou defendendo os traficantes, o que quero colocar é que a pena de morte não
é a melhor solução para coibir as práticas de crimes, pena de morte aqui no
seria um desastre, só seria condenado os pobres, negros e ladrões de galinha,
as cadeias continuam sendo exclusivas a essas camadas que citei anteriormente.
Os
ricos e brancos (rico claro, o branco pobre pode se enquadrar aos negros e
ladrões de galinha) não irão a cadeia, e se for a cadeia, terá a cela exclusiva
se isolando dos demais ou a prisão domiciliar, veja a Operação Lava Jato
deflagrado pela polícia federal, os bandidos do colarinho branco estão presos
nas dependências do prédio da polícia federal em Curitiba - PR e outros em
prisão domiciliar, ou seja, estão presos em suas próprias residências.
Jamais
irão a cela onde estão os demais criminosos que cometeram variados crimes,
desde o roubo de uma galinha a assassinato, como ocorre nas penitenciarias do
nosso país, em que os presos provisórios se juntam aos já condenados pela
justiça, o Brasil continua sendo o país da impunidade, para os bandidos do
colarinho branco claro.
A
operação lava jato está longe de decretar o fim da corrupção e principalmente a
impunidade neste país, as classes dominantes continuará por muito tempo
desfrutando e beneficiando-se da corrupção nas repartições públicas e toda a
sua estrutura como o corporativismo, tráfico de influências e
clientelismo/troca de favores.
A
história está aí para provar, Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, foi
enforcado, esquartejado e teve as partes de seu corpo exposta em praça pública
para servir de exemplo para todos os demais que ousar rebelar-se contra a
metrópole, no caso Portugal, mas foi sozinho condenado, enquanto os demais
foram perdoados ao se livrar do enforcamento e o Joaquim Silvério dos Reis foi
premiado ao delatar as autoridades da coroa o plano de uma eventual revolta
para livrar o Brasil a condição de colônia.
Essa
revolta ficou conhecida como a Inconfidência Mineira, foi orquestrada pelas
elites da colônia que não queriam mais ser dominados pelo estado português, o
Tiradentes que participava do movimento era o único pobre no seleto grupo da
elite escravocrata, agrária e que estavam lucrando com a extração e contrabando
do ouro. Entendeu agora o porquê o Tiradentes foi enforcado e esquartejado em
praça pública? A sua prisão ocorreu em 1789, o enforcamento e esquartejamento
em 1792. De lá para cá pouca coisa mudou neste país, no que diz respeito a
cadeia e a punição de eventuais crimes. Apesar de sermos todos iguais perante a
lei, de acordo com a nossa constituição federal.
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