I
(Lan House Star)
- E ai grande
empresário?
- Beleza, Pirulito.
- Tem algum livre?
- Daqui a 5 minutos
libera a dois.
- De boa.
- Como tá o trampo?
- Só tem dois meses
e a parada não ta de pé ta voando meu
irmão.
- A galera gosta de
novidade, né cumpade?
- É visão... Visão
de futuro.
- Só vive lotado. E
tu que conserta e talz quando dá pau num computador?
- Hunrun.
- Sem Grilo, tu é
inteligente.
- Eu me viro.
Liberou lá ó. Quanto time?
- Uma hora. Bota na
conta aí.
- De boa. E tu já
sabe usar a net, Pirulito?
- Tu acha que sou
burro. Estudei até a oitava série. Aprendo rápido as coisas. E já tem mais de
um mês que vem aqui, pô.
- Cuidado com esses
sites de mulher nua. Tem
uns vírus doido aí que detona o computador.
- Vírus?! Então põe
camisinha neles, pô! Leva eles pra vacinar. Hahahaha.
- Não é esse tipo
de vírus, mané. Viu?! Cuidado com esses sites. Detona a máquina.
- Não te
estressa... Hoje não to a fim de vê só buceta virtual. Quero uma de verdade. Gostei
daquele negócio de bate papo.
- Não te ilude com
essas minas.
- Tu vai ver como
eu vou agarrar uma.
- Larga de ser
menino, Pirulito, além de preto tu mora é em bairro de pobre não é no Calhau e
tem mal uma bicicleta. Ninguém vai te querer. Vão logo achar que tu é
traficante ou ladrão. Só se tu inventar alguma desgrenha.
- Se liga... Eu
tenho minhas imaginações.
- Agora tu digita
que nem uma galinha comendo milho.
- Vai tomar no cú.
Veado!
(Bate Papo da Bol)
Moreno bonito
diz:
Oi
Loira girl diz:
Loira girl diz:
Oi
Moreno bonito
diz:
Qual seu nome?
Loira girl diz:
Loira girl diz:
Rosângela Maria, e o seu?
Moreno bonito diz:
Moreno bonito diz:
Carlos Eduardo.
Loira girl diz:
Loira girl diz:
Idade?
Moreno Bonito
diz:
29
Loira Girl diz:
Loira Girl diz:
E você?
Moreno Bonito diz:
Moreno Bonito diz:
28
Loira Girl diz:
Loira Girl diz:
O que faz da vida?
Moreno Bonito diz:
Moreno Bonito diz:
Sou enpresario.
Loira Girl diz:
Loira Girl diz:
De que?
Moreno Bonito diz:
Moreno Bonito diz:
Patrão d uma loja de carros e voce?
Loira Girl diz:
Loira Girl diz:
Sou médica.
Medica. De que?
Dos pulmões.
Medica. De que?
Dos pulmões.
- Sem Grilo, como
que se chama a médica especialista em pulmões?
- Sei lá. Deve ser
Pulmonologista.
Moreno Bonito
diz:
Voce é pulmonologista.
Loira Girl diz:
Loira Girl diz:
É pneumologista
- Porra, sem grilo. Tu fala as coisas
erradas. Assim eu me queimo. É pneumologista.
- Diz que tu tava no celular e escreveu sem querer errado.
- Diz que tu tava no celular e escreveu sem querer errado.
Moreno lindo diz:
Isso que quis dizer! É que tava no cel falando com um cliente e
acbei escrevendo errado.
Loira Girl:
Nos devemos nos conhecer.
- Sem Grilo, saca
só ela disse que quer me conhecer.
- Ou é ela é muito
feia ou é louca ou os dois.
Moreno lindo diz:
Com certeza.
Loira Girl:
Loira Girl:
Como você é?
Moreno lindo diz:
Sou alto, fort, moreno e tenho olhos claros.
Loira Girl:
Sou alto, fort, moreno e tenho olhos claros.
Loira Girl:
Hummm...Vc deve ser um gato!
Moreno lindo diz :
Moreno lindo diz :
Obrigado e você?
Loira Girl:
Loira Girl:
Eu o quê?
Moreno lindo diz
:
Como você é?
Loira Girl:
Loira Girl:
Ah.... Eu sou branca, não muito alta e tenho um a par de coxas...
Moreno lindo diz :
Moreno lindo diz :
deve ser gata.
Loira Girl:
Loira Girl:
você mora onde?
Moreno lindo diz:
no bairro Paraíso
e você?
Loira Girl:
eu moro no
condominio Alan delon.
Moreno lindo diz
:
pode ser amanhã
Loira Girl:
o que?
Moreno lindo diz
:
nos ver
Loira Girl:
Hummmm...... Pode
ser.
- Vou fechar a Lan, Pirulito. Da logo um thau aí. Amanhã tu bate
papo. Ta tarde e galera ta assaltando mesmo. Não respeito nem mais a gente do
bairro. Ta cheio de viciados filha da puta nas ruas roubando. Os caras nem
respeita a gente, pô.
- Só mais uns minutos.
- E... Parece que o cara conseguiu uma mina.
- É um encontro. É alguma coisa, ela é loira.
- Só se for loira oxigenada. E me diz uma coisa... Tu ainda saca
de fios, eletricidade essas coisas maluco?
To precisando fazer um miau.
- Coisa ruim a gente nunca esquece.
- Essa conta de energia ta vindo muito alto. Essa CEMAR é foda!
Querem me quebrar.
- Amanhã eu faço. Tu vai pagar só dez paus de conta por mês. E a
casa vai cair nunquinha.
- Beleza. Faz o serviço e aí gente e acerta a tua conta aqui e te
dou mais um mês de graça.
- Pô! Um mês, com esse serviço eu quero exclusividade. Melhor,
vou ser teu sócio.
- Tá certo, Moreno
Bonitinho. Hahahaha.
- Tomar no cú.
- Ei zezão vou fechar e... A nega do armarinho passou ai atrás
de ti. Gostosa ela, hein? Ta namorando, né?
- Maluco não namora, maluco fode.
- Hahahaha. Tu tinha que ser era comediante.
II
(Casa onde mora
Pirulito)
- Me dá esse revolver aqui guri. Deixa de brincar de policia e
ladrão e vai estudar pra ser doutor. (chora
de birra e corre reclamando pra sua avó que lava as roupas no quintal).
- Carlos Eduardo, devolve pra ele. Larga de ser menino.
- Vou precisar.
- O que cê ta aprontando, hein?
- Não te estressa senhora... – (levanta os braços pra cima como um jogador de futebol levanta num gol e
beija a santa de gesso em cima da TV) - É hoje que Nossa Senhora da Aparecida
olhou pra mim.
- Cê sabe que tu já pegou xadrez por treta de carros. Sorte que
tu era ainda de menor. Olha que tu tem dezoito anos, cuidado. Aparecida é
santa, mas não é policia.
- Larga de besteira. Passado é passado. E tu sabe que meu trampo
é limpo. Limpo carro de rico de gravata. Hahahaha.
- E tu já comeu alguma coisa?
- Um cafezinho com pão.
- Desse jeito tu não engorda nunca mesmo, seco velho.
- Falo sério, senhora. Falou.
- Vai com deus e a pomba do divino espírito santo. Traz uma
coisa boa pra mim.
- Nazora.
(pega
a rua estreita, põe o quepe, o sol nascendo, o som de reggae, e chega à boca de
fumo)
- E ai fritão[1]!
-? – (olha agitado pros
lados como se a qualquer instante um policial fosse aparecer bem ao seu lado)
- Tem preta[2]?
- Pirulito!
- Não, é não tua mãe Desmaio. Ei tem preta aí?
- Só tem branca[3]. Cada cabeção meu irmão. Da boa.
- Nunca curto mais química. Essa merla é barca furada. Nunca mais me meto nessa merda. A
gente fuma e caga fuma e caga e fica paranóico e paranóico. (Acende
um cigarro e ajusta bem o quepe)
- Pirulito! Deixa dois contos ai. De noite vai chegar uns camarão bonito.
- Ahhhh, pega ai cinco conto, depois eu passo aí. To com crédito
na praça viu? E o Rato tem visto ele?
- Outro dia passou ai num carrão com uma loira gostosa. Ele
perguntou por ti.
- Foi... Hummm...
- E tu não caiu mais no chão babando? Como é que chama a parada?
- Epilepsia... To aí tomando os remédios, pô!
- E fumando pedra... tu é um louco.
- é isso aí... Pirulito! Um dia vou sair dessa vida e limpar
carro também e descer com uma boa nega pro reggae. Tu vai ver porra...
- Que nada! Fica nessa mesma requeiro
guerreiro limpar carro não é essas coisas todas. Mas se eu fosse tu
ia vender era pó com cal em porta de boate pra playboy otário. Pensa alto doido.
III
(Praça
Dom Pedro II)
(Fuma
duas carteiras de cigarro ansioso entre o escovar de pneus, lavagem de capu,
porta, pára-brisa, mala e correrias e gritos disputando carros e vagas com os
outros flanelinhas. O sol está muito quente e não venta. Escuta numa rádio de um
carro a previsão do tempo uma mudança de tempo brusco está preste a
acontecer. O encontro está marcado para
nove horas num dos restaurantes mais chiques da cidade. Não consegue pronunciar
o nome do restaurante, mas sabe bem onde fica - já tinha vigiado carros por lá
antes de arrombarem três carros e a policia começar a chatear)
- Ei... senhor... que horas são?
- 6 horas.
- Valeu. Aquele filha da puta deve já deve ta pra sair desse
prédio. (acende um cigarro e paga a flanela e dá mais limpada no pára-brisa)
(o
senhor de terno e gravata sai do Palácio da Justiça no singular andar empinado
falando no celular e com um cigarro entre os dedos)
- Não tenho trocado hoje nequinho. (Diz sem olhar pra ele)
- Não faz isso patrão. (Inspira fundo e tira a arma presa entre a
cueca e o calção)
-?!
- Não quero suas moedas... Quero a chave, seu celular, carteira
e o terno. (solta o ar no fim da
exigência).
- Tem um terno novinho num cabide dentro do carro.
-... Eeee tem calças e um sapato?
- Não.
- Oh patrão! Então me dê suas calças... E esse sapato bonito com
a meia. E me arranje seus cigarros. (Ele
faz o que exige)
- Não
tenho mais cigarros. Era o último.
- Sem problemas... Sua
esposa é o quê, patrão?
- Como?!
- O que ela faz da vida, caralho?
- Ela é advogada.
- E tu é o que mesmo?
- Advogado do Estado.
- Nazora. Pode ficar
com minhas havaianas patrão e minha bermuda. Quem sabe o senhor não ganha uma
grana vigiando carro. Hahahaha.
- Preto filho da puta!
- Sou preto sim, mas não filho da puta.
Tac ( Aperta o
gatilho)
- Eeeee o patrão ta se mijando na cueca. Pensou que ia morrer,
né? Seu cagão. Tem sorte que essa arma é de brinquedo. Falou.
- Pega ladrão (grita o advogado).
(Entra com
rapidez no e dirige pelas ruas da cidade que se ilumina pela luzes dos portes.
Agora tinha um carro importado, ar condicionado pra dissipar o calor de fora e
cartões de crédito de todas as cores, mas não sabe usar cartões. Liga o som
Pioneer e procura uma estação de Reggae. Mas todos falam em assunto político.
Desliga. Pensa em assaltar alguma coisa. - Por que não assaltar uma farmácia?
Todo mundo compra remédio e uma dor de cabeça lhe perturba sempre no final do
dia. Deve ter muito dinheiro no caixa. Deduz.)
IV
(Av. Daniel de La
Touche)
(Para
na primeira farmácia que vê – Extra Farma. E lembra-se de pôr o terno, a calça
e os sapatos. Demora um tempo fazendo malabarismos pra colocar o terno a calça
e os sapatos. Ao sair faz questão de se ver no reflexo do carro e percebe que
ainda está de quepe. Tira e joga fora. Cospe na mão e penteia os cabelos duros
e ressecados de sol. Sorri.)
- Estou bonito. Mamãe
também acharia.
(Olha
para o céu por causa de um relâmpago e senti um vento forte atingir seu rosto.)
- Vai chover. Esses pingos de água não vão estragar o meu
encontro.
(Entra na
farmácia e caminha tentando imitar o andar do patrão com as roupas exagerados
para seu corpo magro e estranho para um negro queimado de sol. Pára e fica abstraído
entre o vidro do balcão que separa as prateleiras repleta de caixas remédio)
- O que deseja senhor? (Uma
bela voz uniformizada sai de trás de um PC lhe trazendo pra realidade)
- Quero o melhor remédio pra dor de cabeça que tem aí.
- Temos o DOFLEX [4],
senhor.
- Pode ser.
- Só vendemos em cartela ou em caixa, senhor.
- Então me dê uma caixa.
(A atendente põe
a caixa de DOFLEX em uma pequena bacia amarela fenestrada.)
- Você quer mais alguma coisa. Esta em promoção a VITAMINA C
efervescente. Muito bom para fortalecer o sistema imunológico evitando assim gripes
e resfriados. (explica numa voz mecânica
e decorada)
- Ah pode ser. Me diz uma coisa... Vocês têm cigarros?
- Não senhor, aqui é uma farmácia.
- Ah... Foi mal.
- Você paga ali em um daqueles balcões.
(Pega a bacia e
se dirigi com um sentimento de orgulho ao um balcão de pagamento. Nunca foi
tratado com tanto respeito e educação. Tira o revólver do sobrinho sob o terno)
- Passa a grana!
-!
(a tranca do
caixa registradora emperra)
- O que aconteceu?
- Senhor um pouco de calma! Eu vou conseguir abrir.
- Cuida, senão eu te mato.
- Senhor, por favor, não faça isso. Eu tenho um encontro marcado com um homem daqui a pouco.
- Senhor, por favor, não faça isso. Eu tenho um encontro marcado com um homem daqui a pouco.
- E eu to lá me importando com isso. É quero é a grana que ta aí
dentro.
- É que ele deve ser o homem da minha vida.
- Quem é ele?
- Vocês se conheceram onde?
- Na Internet senhor. (os olhos brilham de lágrimas).
- E qual o nome dele?!
- Carlos Eduardo.
- Ele faz o que da vida?
- Vocês se conheceram onde?
- Na Internet senhor. (os olhos brilham de lágrimas).
- E qual o nome dele?!
- Carlos Eduardo.
- Ele faz o que da vida?
- Consegui abrir o caixa, senhor.
- Ele faz o que da vida?
- Pegue o dinheiro, senhor.
- Ele faz o que da vida?
- Peque o dinheiro, senhor. (joga
com as mãos trêmulas as cédulas presas por uma liga em cima do balcão)
- Droga! Larga de me chamar de senhor. Ele faz o que da vida? (olha pro seu crachá e ler seu nome) Responde...
Rosângela!
(Ela enxuga o bigode de suor e ajeita os óculos e repara pela primeira vez aquele homem.)
(Ela enxuga o bigode de suor e ajeita os óculos e repara pela primeira vez aquele homem.)
- Me desculpe... Ele é dono de uma loja de...
- De que porra?! (grita impaciente)
- De que porra?! (grita impaciente)
- De carros.
- Meu deus. Que merda! Fudeu tudo. (bota a mão na cabeça)
- O que senhor?
- Sua gorda feia, vou te dar um tiro na boca pra largar de
mentir... Dizendo que era gostosa, médica, loira
num sei o quê, meu pau.
- O quê? Como? Não faço isso senhor! (chora aos prantos)
- Tem sorte que essa arma é de brinquedo (pensa). Todo mundo calado
ninguém se mexe. Eu vou matar essa mulher. A casa caiu, a casa caiu! Caralho! (Pega a grana o remédio e sai da farmácia)
- Merda, merda, merda.
(entra
no carro e arranca)
- E esse carro? Vou levar logo no desmanche do Rato e sair dá um
tempo dessa cidade.
(Põe
dois analgésicos na boca e sintoniza a rádio que toca three litlle birds)
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