Por Lucas
Quoos.
noites
insones e poemas ainda úmidos da impressora à jato. cafeína e crystal castles
(bandinha ruim da porra). ilustrações arrancadas de um livro infantil
espalhadas no rack e uma camiseta do palmeiras comprada em 2010 por quinze
reais (preço acima da média) em santo amaro na zona sul de um puteiro chamado
São Paulo (também existe uma cidade com esse nome), com cheiro de mijo seco e
pomba assada. desço direto em direção à um sebo chamado “Sebo” (pelo menos é o
que a placa em cima dizia). acho um livro com a capa preta e rosa sob o desenho
de uma arma apontada pra uma loira de salto alto, abro e leio uma frase
aleatória: “Ah Louise, sua puta desgraçada, eu te amo!” ah, não fode porra. só
podia mesmo ser do século passado esse livro. saio de lá e dou de cara com ela.
a vaca, a filha da puta, a minha ex namorada chupadora de pirulitos POP (ainda
existe essa merda?). graças à mim comprei um livro grande do Freud e pude
colocá-lo descaradamente no rosto e atravessar a rua antes que… merda, ela me
viu. anda anda anda. não dá mais. ela tá vindo. ê, caralho. um helicóptero
podia cair em cima dela (“háa sempre a pequena chance de o impossível
rolaaaaar”).
“e aí, cara! como vai?”
“ah, não vem me foder com a tua simpatia”
“ih, ó lá, já vi que continua o mesmo mau humoradão uhhh”
“não fode, meeeu. tô indo pra casa”
“eu também”
“me mudei, to morando no Grajaú”
“mentira, acabei de passar na sua casa e a vizinha disse que você já
voltava”
“ave”
“que cê tá lendo?”
“Freud”
“ave”
chegou a lotação. a porra da perua do
Jd. Nakamura consegue ficar lotada até no domingo. mas como a gente pegou no
terminal, deu pra ir sentado de boa. no começo foi bacana. eu curtia ficar
olhando pela janela o pessoal no terminal. vendedores de salgadinho e latas de
lixo. churrasco grego e sacolas do Brás. máquinas de recarregar o bilhete único
e deficientes mentais pedindo esmola. uns caras dando risada alto pra chamar a
atenção e uma mina silenciosa feito um monge achando que sabe algo da vida (vai
que, né? / mas também foda-se). tava lindo, mas aí a ex resolveu puxar assunto.
“larguei o emprego”
“pra quê?”
“virei artista”
“duvido”
“sério, porra, leva a sério”
“duvido. me mostra”
“não dá, sou pintora agora, só pinto
quadros e eles não cabem na minha bolsa”
“é (vai saber) acho que não mesmo”
“mas eu te mostro, assim que a gente
chegar na sua casa”
“ok”
escondo a chave num esconderijo num
tijolo quebrado perto da porta. ela foi direto nele. abriu a casa e foi pegando
as garrafas de cerveja que eu tinha deixado espalhadas no quarto entre copos e
uma toalha de mesa suja de geléia de uva. um ventilador esquelético e uma
chuteira de futebol com os meiões dentro. desodorante rolon e Tony Hawk’s Pro
Skater. deitei na cama que por incrível que pareça estava arrumada. enquanto
Marina (eu ainda não tinha dito o nome dela, né?) foi pegar o tripé na sua
casa, já que é minha vizinha.
Voltou.
Colocou o tripé no meio do quarto.
Começou a desenhar.
Fiquei olhando.
Terminou. Virou o tripé com o desenho pro lado da cama.
“É um círculo”, eu disse “você desenhou um círculo numa tela quadrada”
“aham, lindo né?”
“você é maluca”
“não, presta atenção. a maluquice é uma linha reta”
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