Felisvaldo amava Ritinha, e era
um amor de uma pureza como poucos são. Ele a amava desde os tempos de escola,
quando passava horas admirando-a de longe e desmanchando-se em suspiros. Por
ela tinha feito as maiores loucuras que uma pessoa pode fazer por outra. Não
tinha favor que ela lhe pedisse que ele rejeitasse, fazia-lhe de um tudo, só
para estar perto dela. Chegou ao ponto de se converter e frequentar a mesma
igreja que ela frequentava com a família, visto que eram todos evangélicos, e Felisvaldo
achou que assim seria um bom caminho para vir a ser um candidato a pretendente
de Ritinha.
Como já falei, Ritinha vinha de
uma família de crentes contritos e muito conservadores. Era a filha única de
Sr. Salustiano e D. Candinha, e como tal, era cercada dos maiores cuidados.
Moça recatada, versada nas prendas domésticas, estudiosa, um anjo de pessoa. Um
anjo, era assim que Felisvaldo a via. Ela com seus belos olhos azuis, cabelos
dourados, pele branca, feições delicadas e tímida, parecia aos olhos de
Felisvaldo um ser angelical.
O tempo foi passando e Felisvaldo
foi ganhando a confiança da família da moça, era prestativo, solícito e pouco a
pouco foi se tornando frequentador da casa de Ritinha e se tornando amigo dela.
Iam juntos aos cultos da igreja e ele sempre vinha lhe deixar em casa, só como
pretexto para poder ficar jogando conversa fora com ela na porta de sua casa.
Bebia suas palavras como se fossem o néctar dos deuses. Estava completamente
apaixonado por ela, e a cada dia que passava aquele sentimento crescia mais.
Certo dia, uma tragédia se abateu
sobre a família de Ritinha, seus pais faleceram em um acidente de carro e a
moça agora começava a passar por sérios problemas
Com a morte dos pais, Ritinha
começou a ter sérios problemas financeiros, as dívidas da família recaíram
sobre ela e como esta não tinha emprego, foi obrigada a vender quase tudo que
tinha para saldar seus credores. Felisvaldo se dispôs a ajuda-la, ofereceu-se
para pagar as dívidas, mas ela recusou. O pobre e apaixonado Felisvaldo chegou
a implorar para que ela aceitasse sua ajuda sincera, mas ela era enfática, não
queria.
O tempo foi passando, e mais e
mais a situação de Ritinha piorava, chegou
a tal ponto que se viu as voltas de vender a casa em que morava. Felisvaldo
vendo-a em tamanha dificuldade, encheu-se de coragem e foi pedir-lhe (na
verdade foi intimá-la) a aceitar sua ajuda, pediu que não vendesse a casa e que
aceitasse seu pedido de namoro, queria noivar breve e casar com ela o mais
rápido possível.
Ritinha relutante, mas espantada
com o rompante de Felisvaldo, aceitou. Naquele dia o pobre Felisvaldo não
andava, flutuava no caminho de volta pra casa. Sentia-se o homem mais feliz da
face da terra, iria realizar o sonho de infância, iria namorar a única mulher a
quem amara e amava loucamente em toda a sua vida. Aquela noite Felisvaldo
dormiu e sonhou com seu anjo de pele clara, olhos azuis e cabelos dourados.
Anjo que finalmente seria dele.
Durante o tempo de namoro, Felisvaldo tratava
Ritinha como um anjo. Iam juntos aos cultos da igreja, e ele a deixava em casa,
ficavam conversando na porta de mãos dadas, Felisvaldo não se atrevia a entrar
para não macular a reputação da jovem, até beijá-la em público ele não fazia,
no máximo um beijo na mão ou na testa ao se despedir. Ritinha era uma santa aos
olhos de Felisvaldo, e ele se esmerava em trata-la como tal. A tratava como uma
flor, como uma rosa, despendia tempo com galanteios e presentes à sua amada,
escrevia-lhe poemas e juras de amor eterno. Mas em dado momento Ritinha começou
a ficar alheia aos carinhos de Felisvaldo, parecia enfadada com as
demonstrações de afeto e de amor que ele lhe dedicava, rejeitava a companhia do
namorado por qualquer pretexto, se isolava frequentemente, deixou de ir aos
cultos da igreja, até que um dia, sem que ninguém soubesse como nem porque, ela
vendeu a casa e saiu da cidade, sumiu, desapareceu.
Felisvaldo quase enlouquecera
quando soube do acontecido, estrou em total desespero, procurou em vão pela
namorada em todo canto, mas ela desaparecera de tal maneira que ninguém sabia
dar notícias dela. Felisvaldo adoecera, ficou acamado, doente, chorava o dia
todo pensando por onde estaria seu anjo de cabelos dourados, uma garota frágil,
delicada, pura e ingênua solta num mundo perverso como esse. Felisvaldo temia
por sua amada e iniciou uma busca incansável por aquela que era o único e
verdadeiro amor de sua vida.
A busca de Felisvaldo por sua
amada, no entanto, mostrou-se sem sucesso. Ritinha nunca mais foi vista.
Passaram-se dois anos, e durante esse
tempo todo Felisvaldo manteve-se fiel, nunca se aproximara de outra mulher,
estava se guardando porque sabia que Ritinha um dia iria voltar para ele. Mas
aconteceu que certa noite Felisvaldo que era notório por sua calma e mansidão,
se envolveu em uma briga num bar. Havia quebrado garrafas e com um gargalo de
uma nas mãos, com o rosto vermelho de raiva, gritava e xingava, ameaçando de morte um tal
de pato chôco, o motivo de tal sanha devastadora de violência por parte do
pacato Felisvaldo era a seguinte: Pinto chôco havia dito que Ritinha tinha
virado puta.
Ele mesmo (pinto chôco) a havia
visto no puteiro de madame Sebastiana, numa cidade vizinha. Não tinha dúvidas –
Dizia pinto chôco – Era ela, era Ritinha.
Depois me muito lutarem para
desarmar Felisvaldo e apartar a briga, o expulsaram do bar. Felisvaldo saiu, e
todos correram em direção a pinto chôco pra saber de mais detalhes sobre aquela
história. Felisvaldo cambaleava pela rua, não podia acreditar naquilo, a sua
Ritinha, o seu anjo de boca rosada, num puteiro? Não. Aquilo não podia ser
verdade.
Mas algo como uma fera de garras
afiadas rasgava o peito do pobre felisvaldo. Ele precisava de uma prova, e por
mais que relutasse em pelo menos cogitar essa possibilidade, Felisvaldo
necessitava dessa certeza.
Sem pensar, sem saber direito o
que fazia, pegou um ônibus e seguiu para a cidade onde pinto chôco dizia ter
visto Ritinha.
Felisvaldo, chegando à cidade,
foi direto para o puteiro de madame Sebastiana. Um cabaré famoso em toda a
região. Lá cada puta tinha seu próprio quarto numerado, e segundo pato chôco, o
suposto quarto de Ritinha era o de número 13.
Felisvaldo bateu na porta do quarto e uma voz arrastada vindo lá de
dentro, mandou que entrasse.
Felisvaldo não acreditava no que
via. Dentro do quarto, deitada sobre a cama, vestindo apenas uma lingerie vermelha, meia taça e cinta liga
da mesma cor, fumando uma cigarrilha de filtro longo, de maquiagem bem marcada
e cheirando a perfume barato, lá estava Ritinha.
Felisvaldo sentiu o mundo girar
por alguns instantes, e se segurou na porta, sentindo a vista escurecer. Ritinha
ao contrário, não se espantou ao ver Felisvaldo parado e cambaleante na soleira
da porta. Felisvaldo aos poucos foi retomando o controle de si. Olhava
espantado para Ritinha sem acreditar no que via em sua frente. Ali estava a sua
amada, o mesmo rosto, os cabelos dourados, a pele clara... ali estava seu anjo,
mas o seu olhar não era o mesmo, não havia nada de angelical naquele olhar...
muito pelo contrário, havia malícia, lascívia, luxúria, nos olhos dela...
aquele ambiente transpirava sexo.
De repente sem saber nem mesmo
porque, Felisvaldo foi tomado por uma súbita excitação. Sem pensar muito no que
estava fazendo, Felisvaldo foi em direção a Ritinha e a agarrou com força. Um
misto de tesão e raiva tomava conta de Felisvaldo enquanto ele arrancava fora a
lingerie de Rita deixando-a nua.
Jogou-a na cama, virou-a de costa
e segurando-pelos cabelos, a possuiu. Com força, puxando-lhe os cabelos
dourados enquanto pressionava mais e mais seu corpo contra o dela. Virou-a de
frente e viu que aqueles olhos azuis estavam vidrados, semifechados, e a boca
cor de rosa de contorcia numa expressão de prazer. Ela estava gostando daquilo.
A excitação de Felisvaldo crescia junto com sua indignação e raiva, então
enquanto a penetrava ele dava tapas na cara dela e a chamava de puta, vadia, a
pele branca ia ficando vermelha dos tapas que levava enquanto era penetrada
enérgica e repetidamente, em meio a tapas e xingamentos por Felisvaldo, que a
essa altura já não sabia se o que sentia era prazer, raiva, rancor ou
frustração.
Chegaram junto ao ápice, àquela
sensação indescritível em que alguns segundos parecem uma eternidade e o mundo
e tudo perde o sentido, - aquela sensação que todos nós conhecemos bem então
não nos façamos de desentendidos do assunto – ele num gemido contido, abafado.
Ela aos berros, se contorcendo embaixo dele, arfando, em espasmos ritmados enquanto
segurava com força as bordas dos lençóis.
Felisvaldo levantou-se e começava
a se vestir quando Ritinha se joga aos seus pés. Com os olhos brilhando ela diz
que era isso que ela sempre esperara dele, que nunca se sentira tão realizada
quanto naquele momento... e que agora e só agora fora feliz de verdade.
Ali, de joelhos abraçada aos pés
de Felisvaldo, Ritinha sorria e chorava... e com lágrimas de felicidade nos
olhos dizia ao boquiaberto ser que a olhava sem nada entender: “- Felisvaldo
meu amor, eu te amo. Nunca senti com ninguém o que senti com você... por favor,
meu amor... meu bem... casa comigo!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário