segunda-feira, setembro 17

O estranho caso amoroso de Felisvaldo.



                                                               Foto: Éugene Cyrelle.




Felisvaldo amava Ritinha, e era um amor de uma pureza como poucos são. Ele a amava desde os tempos de escola, quando passava horas admirando-a de longe e desmanchando-se em suspiros. Por ela tinha feito as maiores loucuras que uma pessoa pode fazer por outra. Não tinha favor que ela lhe pedisse que ele rejeitasse, fazia-lhe de um tudo, só para estar perto dela. Chegou ao ponto de se converter e frequentar a mesma igreja que ela frequentava com a família, visto que eram todos evangélicos, e Felisvaldo achou que assim seria um bom caminho para vir a ser um candidato a pretendente de Ritinha.

Como já falei, Ritinha vinha de uma família de crentes contritos e muito conservadores. Era a filha única de Sr. Salustiano e D. Candinha, e como tal, era cercada dos maiores cuidados. Moça recatada, versada nas prendas domésticas, estudiosa, um anjo de pessoa. Um anjo, era assim que Felisvaldo a via. Ela com seus belos olhos azuis, cabelos dourados, pele branca, feições delicadas e tímida, parecia aos olhos de Felisvaldo um ser angelical.

O tempo foi passando e Felisvaldo foi ganhando a confiança da família da moça, era prestativo, solícito e pouco a pouco foi se tornando frequentador da casa de Ritinha e se tornando amigo dela. Iam juntos aos cultos da igreja e ele sempre vinha lhe deixar em casa, só como pretexto para poder ficar jogando conversa fora com ela na porta de sua casa. Bebia suas palavras como se fossem o néctar dos deuses. Estava completamente apaixonado por ela, e a cada dia que passava aquele sentimento crescia mais.
Certo dia, uma tragédia se abateu sobre a família de Ritinha, seus pais faleceram em um acidente de carro e a moça agora começava a passar por sérios problemas

Com a morte dos pais, Ritinha começou a ter sérios problemas financeiros, as dívidas da família recaíram sobre ela e como esta não tinha emprego, foi obrigada a vender quase tudo que tinha para saldar seus credores. Felisvaldo se dispôs a ajuda-la, ofereceu-se para pagar as dívidas, mas ela recusou. O pobre e apaixonado Felisvaldo chegou a implorar para que ela aceitasse sua ajuda sincera, mas ela era enfática, não queria.


O tempo foi passando, e mais e mais  a situação de Ritinha piorava, chegou a tal ponto que se viu as voltas de vender a casa em que morava. Felisvaldo vendo-a em tamanha dificuldade, encheu-se de coragem e foi pedir-lhe (na verdade foi intimá-la) a aceitar sua ajuda, pediu que não vendesse a casa e que aceitasse seu pedido de namoro, queria noivar breve e casar com ela o mais rápido possível.
Ritinha relutante, mas espantada com o rompante de Felisvaldo, aceitou. Naquele dia o pobre Felisvaldo não andava, flutuava no caminho de volta pra casa. Sentia-se o homem mais feliz da face da terra, iria realizar o sonho de infância, iria namorar a única mulher a quem amara e amava loucamente em toda a sua vida. Aquela noite Felisvaldo dormiu e sonhou com seu anjo de pele clara, olhos azuis e cabelos dourados. Anjo que finalmente seria dele.

 Durante o tempo de namoro, Felisvaldo tratava Ritinha como um anjo. Iam juntos aos cultos da igreja, e ele a deixava em casa, ficavam conversando na porta de mãos dadas, Felisvaldo não se atrevia a entrar para não macular a reputação da jovem, até beijá-la em público ele não fazia, no máximo um beijo na mão ou na testa ao se despedir. Ritinha era uma santa aos olhos de Felisvaldo, e ele se esmerava em trata-la como tal. A tratava como uma flor, como uma rosa, despendia tempo com galanteios e presentes à sua amada, escrevia-lhe poemas e juras de amor eterno. Mas em dado momento Ritinha começou a ficar alheia aos carinhos de Felisvaldo, parecia enfadada com as demonstrações de afeto e de amor que ele lhe dedicava, rejeitava a companhia do namorado por qualquer pretexto, se isolava frequentemente, deixou de ir aos cultos da igreja, até que um dia, sem que ninguém soubesse como nem porque, ela vendeu a casa e saiu da cidade, sumiu, desapareceu.

Felisvaldo quase enlouquecera quando soube do acontecido, estrou em total desespero, procurou em vão pela namorada em todo canto, mas ela desaparecera de tal maneira que ninguém sabia dar notícias dela. Felisvaldo adoecera, ficou acamado, doente, chorava o dia todo pensando por onde estaria seu anjo de cabelos dourados, uma garota frágil, delicada, pura e ingênua solta num mundo perverso como esse. Felisvaldo temia por sua amada e iniciou uma busca incansável por aquela que era o único e verdadeiro amor de sua vida.

A busca de Felisvaldo por sua amada, no entanto, mostrou-se sem sucesso. Ritinha nunca mais foi vista. Passaram-se dois anos,  e durante esse tempo todo Felisvaldo manteve-se fiel, nunca se aproximara de outra mulher, estava se guardando porque sabia que Ritinha um dia iria voltar para ele. Mas aconteceu que certa noite Felisvaldo que era notório por sua calma e mansidão, se envolveu em uma briga num bar. Havia quebrado garrafas e com um gargalo de uma nas mãos, com o rosto vermelho de raiva,  gritava e xingava, ameaçando de morte um tal de pato chôco, o motivo de tal sanha devastadora de violência por parte do pacato Felisvaldo era a seguinte: Pinto chôco havia dito que Ritinha tinha virado puta.

Ele mesmo (pinto chôco) a havia visto no puteiro de madame Sebastiana, numa cidade vizinha. Não tinha dúvidas – Dizia pinto chôco – Era ela, era Ritinha.

Depois me muito lutarem para desarmar Felisvaldo e apartar a briga, o expulsaram do bar. Felisvaldo saiu, e todos correram em direção a pinto chôco pra saber de mais detalhes sobre aquela história. Felisvaldo cambaleava pela rua, não podia acreditar naquilo, a sua Ritinha, o seu anjo de boca rosada, num puteiro? Não. Aquilo não podia ser verdade.

Mas algo como uma fera de garras afiadas rasgava o peito do pobre felisvaldo. Ele precisava de uma prova, e por mais que relutasse em pelo menos cogitar essa possibilidade, Felisvaldo necessitava dessa certeza.
Sem pensar, sem saber direito o que fazia, pegou um ônibus e seguiu para a cidade onde pinto chôco dizia ter visto Ritinha.

Felisvaldo, chegando à cidade, foi direto para o puteiro de madame Sebastiana. Um cabaré famoso em toda a região. Lá cada puta tinha seu próprio quarto numerado, e segundo pato chôco, o suposto quarto de Ritinha era o de número 13.  Felisvaldo bateu na porta do quarto e uma voz arrastada vindo lá de dentro, mandou que entrasse.

Felisvaldo não acreditava no que via. Dentro do quarto, deitada sobre a cama, vestindo apenas  uma lingerie vermelha, meia taça e cinta liga da mesma cor, fumando uma cigarrilha de filtro longo, de maquiagem bem marcada e cheirando a perfume barato, lá estava Ritinha.

Felisvaldo sentiu o mundo girar por alguns instantes, e se segurou na porta, sentindo a vista escurecer. Ritinha ao contrário, não se espantou ao ver Felisvaldo parado e cambaleante na soleira da porta. Felisvaldo aos poucos foi retomando o controle de si. Olhava espantado para Ritinha sem acreditar no que via em sua frente. Ali estava a sua amada, o mesmo rosto, os cabelos dourados, a pele clara... ali estava seu anjo, mas o seu olhar não era o mesmo, não havia nada de angelical naquele olhar... muito pelo contrário, havia malícia, lascívia, luxúria, nos olhos dela... aquele ambiente transpirava sexo.

De repente sem saber nem mesmo porque, Felisvaldo foi tomado por uma súbita excitação. Sem pensar muito no que estava fazendo, Felisvaldo foi em direção a Ritinha e a agarrou com força. Um misto de tesão e raiva tomava conta de Felisvaldo enquanto ele arrancava fora a lingerie de Rita deixando-a nua.
Jogou-a na cama, virou-a de costa e segurando-pelos cabelos, a possuiu. Com força, puxando-lhe os cabelos dourados enquanto pressionava mais e mais seu corpo contra o dela. Virou-a de frente e viu que aqueles olhos azuis estavam vidrados, semifechados, e a boca cor de rosa de contorcia numa expressão de prazer. Ela estava gostando daquilo. A excitação de Felisvaldo crescia junto com sua indignação e raiva, então enquanto a penetrava ele dava tapas na cara dela e a chamava de puta, vadia, a pele branca ia ficando vermelha dos tapas que levava enquanto era penetrada enérgica e repetidamente, em meio a tapas e xingamentos por Felisvaldo, que a essa altura já não sabia se o que sentia era prazer, raiva, rancor ou frustração.   

Chegaram junto ao ápice, àquela sensação indescritível em que alguns segundos parecem uma eternidade e o mundo e tudo perde o sentido, - aquela sensação que todos nós conhecemos bem então não nos façamos de desentendidos do assunto – ele num gemido contido, abafado. Ela aos berros, se contorcendo embaixo dele, arfando, em espasmos ritmados enquanto segurava com força as bordas dos lençóis.
Felisvaldo levantou-se e começava a se vestir quando Ritinha se joga aos seus pés. Com os olhos brilhando ela diz que era isso que ela sempre esperara dele, que nunca se sentira tão realizada quanto naquele momento... e que agora e só agora fora feliz de verdade.

Ali, de joelhos abraçada aos pés de Felisvaldo, Ritinha sorria e chorava... e com lágrimas de felicidade nos olhos dizia ao boquiaberto ser que a olhava sem nada entender: “- Felisvaldo meu amor, eu te amo. Nunca senti com ninguém o que senti com você... por favor, meu amor... meu bem... casa comigo!”


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