segunda-feira, setembro 17

breves considerações sobre beber sozinho


faz tempo que queria escrever este. há tempos que não tenho conseguido reservar um minuto para valsear a sós com uma garrafa de whisky. 
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“Um Martini bem-feito ou Gibson, corretamente refrigerados e bem servidos, têm sido mais frequentemente meu amigo verdadeiro do que qualquer criatura de duas pernas.” (M. F. K. Fisher)
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todo homem possui o mundo dentro de si. o poeta é um homem que aprendeu que sentimentos como angústia, amor, ódio, desejo, felicidade, paixão são completamente internos. um poeta jamais colocará sua felicidade em algo externo, como um objeto ou uma pessoa. beber sozinho é sentar-se em companhia do mundo imerso dentro do seu ser. um homem tem o mundo dentro de si. um poeta sente o mundo dentro de si. a felicidade do homem está nas coisas externas, o que, na visão do poeta, é impossível. a felicidade está dentro de cada um. ao exteriorizar a minha felicidade, dando-a forma e significado - e um corpo, torna-la-ei incompleta. dizem para que eu faça mais do que apenas existir. certo… mas só existo de forma completa dentro do meu ser - fora dele, sou apenas vultos de luz, o ecoar quase imperceptível de gritos de loucura interior. 
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“Era bom estar solitário num lugarzinho, sentado, fumando e bebendo. Sempre tinha sido uma boa companhia para mim mesmo.” (Charles Bukowski)
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encontre-se em alguma esquina dentro do frasco e tenha uma boa conversa. por mais paradoxal que seja, espere encontrar um desconhecido. talvez um perdido, um fodido… alguém totalmente diferente do que você esperava de si mesmo. acontece. beba com ele até perceber que você é o estranho, o tolo, o falso, que não sabe o que faz. deixe-o tomar o controle - talvez, em algum momento do passado, enquanto bebia, ele tenha assumido o controle. mas algo deu errado. o fato de não se conhecerem faz com que ele (o estranho dentro da garrafa) não se importe com você e vice-versa. eis o problema de beber em público - quem está a nossa volta, acaba nos conhecendo melhor do que a nós mesmos. Charles Russel dizia que você não sabe nada sobre um homem até que você tenha ficado bêbado fedendo com ele. por isso, a conversa é necessária. troquem socos, facadas, insultos e não seja simpático no início. um discurso rude pode significar muito mais do que qualquer discurso. 
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“Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar[…]” (Charles Baudelaire)
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o único meio de alcançar alguma grandeza espiritual se dá através da loucura, acompanhada de devastação e sacrifício. os poucos que alcançaram tal patamar, não estavam interessados, talvez, na grandeza da sua alma, mas sim, tomados pela angústia de estar em meio à tanta podridão e espíritos pequenos vivendo como se nunca morressem… tente mostrar para alguém a sua insignificância no universo e sentirá a brisa leve, fria e cruel do sentimento de deslocamento - pois te darão aquele olhar. bem, que se dane. ainda lhe resta a garrafa. ainda lhe resta a si mesmo. tudo é em vão. a vida que os universitários levam é em vão. o motorista de ônibus. o frentista. a mina que da o cu no banheiro da balada. não há nada mais vão que a vida e, ao mesmo tempo, não há compensação - talvez uma vida feliz. até a felicidade é vã. a vida apenas é. assim como todas as coisas são. assim como essas palavras são vazias. mortas. e eu nem estou bêbado. ainda. não vou a lugar algum - mas vou ficar embriagado. de vinho, de poesia, de virtude e - acrescento - de um bom blues. e depois, vou vomitar tudo numa sarjeta qualquer. há muito lixo dentro de qualquer homem para ser vomitado. 
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na manhã seguinte, evite pensar por qual beco escuro você pode ter ido sem sair do quarto.
nunca nos esquecemos do homem que nos faz companhia enquanto bebemos sozinhos. enquanto estivermos bêbados no meio dum bar lotado, será possível vê-lo no reflexo no fundo do copo. 


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