faz tempo que queria
escrever este. há tempos que não tenho conseguido reservar um minuto para
valsear a sós com uma garrafa de whisky.
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“Um
Martini bem-feito ou Gibson, corretamente refrigerados e bem servidos, têm sido
mais frequentemente meu amigo verdadeiro do que qualquer criatura de duas
pernas.” (M. F. K. Fisher)
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todo homem possui o mundo dentro de si. o poeta é um homem que
aprendeu que sentimentos como angústia, amor, ódio, desejo, felicidade, paixão
são completamente internos. um poeta jamais colocará sua felicidade em algo
externo, como um objeto ou uma pessoa. beber sozinho é sentar-se em companhia
do mundo imerso dentro do seu ser. um homem tem o mundo dentro de si. um
poeta sente o mundo dentro de si. a felicidade do homem está nas coisas
externas, o que, na visão do poeta, é impossível. a felicidade está dentro de
cada um. ao exteriorizar a minha felicidade, dando-a forma e significado - e um
corpo, torna-la-ei incompleta. dizem para que eu faça mais do que apenas
existir. certo… mas só existo de forma completa dentro do meu ser - fora dele,
sou apenas vultos de luz, o ecoar quase imperceptível de gritos de loucura
interior.
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“Era
bom estar solitário num lugarzinho, sentado, fumando e bebendo. Sempre tinha
sido uma boa companhia para mim mesmo.” (Charles Bukowski)
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encontre-se em alguma esquina dentro do frasco e tenha uma boa
conversa. por mais paradoxal que seja, espere encontrar um desconhecido. talvez
um perdido, um fodido… alguém totalmente diferente do que você esperava de si
mesmo. acontece. beba com ele até perceber que você é o estranho, o tolo, o
falso, que não sabe o que faz. deixe-o tomar o controle - talvez, em algum
momento do passado, enquanto bebia, ele tenha assumido o controle. mas algo deu
errado. o fato de não se conhecerem faz com que ele (o estranho dentro da
garrafa) não se importe com você e vice-versa. eis o problema de beber em
público - quem está a nossa volta, acaba nos conhecendo melhor do que a nós
mesmos. Charles Russel dizia que você não sabe nada sobre um homem até que você
tenha ficado bêbado fedendo com ele. por isso, a conversa é necessária. troquem
socos, facadas, insultos e não seja simpático no início. um discurso rude pode
significar muito mais do que qualquer discurso.
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“Para
não sentirdes o horrível fardo do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a
terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar[…]” (Charles Baudelaire)
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o único meio de alcançar
alguma grandeza espiritual se dá através da loucura, acompanhada de devastação
e sacrifício. os poucos que alcançaram tal patamar, não estavam interessados,
talvez, na grandeza da sua alma, mas sim, tomados pela angústia de estar em
meio à tanta podridão e espíritos pequenos vivendo como se nunca morressem…
tente mostrar para alguém a sua insignificância no universo e sentirá a brisa
leve, fria e cruel do sentimento de deslocamento - pois te darão aquele olhar.
bem, que se dane. ainda lhe resta a garrafa. ainda lhe resta a si mesmo. tudo é
em vão. a vida que os universitários levam é em vão. o motorista de ônibus. o
frentista. a mina que da o cu no banheiro da balada. não há nada mais vão que a
vida e, ao mesmo tempo, não há compensação - talvez uma vida feliz. até a
felicidade é vã. a vida apenas é. assim como todas as coisas são. assim como
essas palavras são vazias. mortas. e eu nem estou bêbado. ainda. não vou a
lugar algum - mas vou ficar embriagado. de vinho, de poesia, de virtude e -
acrescento - de um bom blues. e depois, vou vomitar tudo numa sarjeta qualquer.
há muito lixo dentro de qualquer homem para ser vomitado.
***
na manhã seguinte, evite pensar por qual beco escuro você pode
ter ido sem sair do quarto.
nunca nos esquecemos do
homem que nos faz companhia enquanto bebemos sozinhos. enquanto estivermos
bêbados no meio dum bar lotado, será possível vê-lo no reflexo no fundo do
copo.
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