A tristeza me pegou de jeito hoje. Sinto que aquele desenho
de ossos encapuzados criou vida e bate na porta das pessoas, anunciando a
brevidade de nossa consciência. E a perpetuidade das minhas memórias... Será
que vou sempre me lembrar de ti?
Eu não tenho lágrimas suficientes para salgar tua carne, e
me juntarei aos teus outros amigos no teu processo de mumificação, e poetaremos
teus feitos e não-feitos (como se
feitos tivessem sido), e te manteremos vivo como a musa de Camões.
Ah, meu amigo. As perdas se acumulam como um punhado de
pedras nos meus bolsos enquanto tento atravessar o rio. E a cada braçada me
sinto mais pesada e preciso de mais força para seguir.
A dor me é infinita, e hoje me resigno a senti-la vibrante
em minhas artérias, perfurando meus
órgãos e cegando meus olhos. Minha visão cega tromba nos mesmos móveis que
sempre estiveram no mesmo lugar, e sinto novamente a (in)segurança de que está tudo igual.
As estrelas não me consolam, nem a lua, nem o céu. Nem mesmo
o céu. Nos encontraremos um dia, meu caro.
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