sexta-feira, agosto 16

O jazz do coração

Por Maria Ligia Ueno 

E as batidas do meu coração ressoam como sinos na madrugada gelada, causando calafrios nos ouvintes solitários, causando balbúrdia nas ondas sonoras com as quais cruza. Ouvem-se com perfeição cada toque de hora, mas não é uma hora comum. A minha hora não se reúne em minutos, nem em segundos, mas em risos. E cada hora passa mais rápida ou mais lentamente, a depender da distância entre a tua presença e os meus sentidos.
E como um trem a vapor, segue quase descarrilando, deixando-se torrar pela caldeira quente em que minha linfa se transformou. Apitando próximo às aldeias, chamando teu nome com um assobio forte, quem sabe em qual delas estará?

Segue, Maquinista, segue avante, diz-lhe meu som. Ponha lenha na minha caldeira, deixe-me queimar, deixe o fogo consumir o que restou de mim.


Mera ferrovia, esta é a definição da minha esperança, e as batidas do meu coração seguem soando, trilhos afora, o que espero do futuro. Expectativas devidamente demarcadas entre duas paralelas de ferro, e estas dão a volta ao mundo.
E meus trilhos dourados, assim como os tijolos de Dorothy, levam-me ao destino, levam-se ao acaso, levam-te junto. Seguindo pelos belos campos, subindo montanhas, descendo penhascos, em alta velocidade, e apreciando a paisagem que construímos pingo a pingo, numa linda pintura pontilhista.
E meu coração direciona o som de seu tamborilar, per-seguindo outro trem, que emite outro som, outras batidas de outro coração.


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