Por Lucas Quoos
eu escrevo porque escrever é cuspir na cara de Deus. é impossível ser
submisso à qualquer coisa e, ao mesmo tempo, escrever. não consigo compreender
a escrita de outra forma senão “eu” sendo o centro do mundo. megalomania? bem,
que se dane. escrevo por retaliação, pra me vingar de ter que viver uma vida
sabotada. pra que mais escreveria? já não vejo mais utilidades pra tantos
livros no mundo. não fosse a minha estupidez, minhas loucuras, restos estúpidos
de noites num quarto pequeno e só, livros, paredes, vinho, não escreveria. se
eu me sentisse bem, completo, conhecedor de mim mesmo - não escreveria. ainda
se eu houvesse matado os demônios, mas ao invés disso, os alimento mais ainda.
escrever não tem nada a ver com Deus - exceto pelo fato de competirmos com ele
- mas sim com o inferno. a escrita só prospera verdadeiramente naqueles que
estão à beira do abismo, sendo abraçados pela escuridão, seduzidos por uma
vertigem magnífica. escrever é não condizer consigo mesmo, é bater de frente
num espelho já quebrado.
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