Por Lucas.
A Terra deve ser o lugar mais bacana do universo, eu pensava, enquanto escrevia — essa merda vicia mais que cerveja — num pedaço de papel (na verdade uma página arrancada dum livro do Dostoiévski) que me apareceu assim que acordei. A vista ainda embaçada não me deixava identificar o lugar exato onde estava. Não encontrava na memória onde era aquilo ali. Um quartinho bacana - sabia que já havia estado nesse quarto antes, mas não lembrava quando e nem o motivo. A Terra deve ser o lugar mais bacana do universo - escrevi,. Um mundo virgem azul úmido que não usa calcinha e que nunca antes foi lambido por uma língua comprida extraterrestre, mas que tem sonhos eróticos e caóticos como uma teenager que ainda acha que a sua primeira foda será mágica como o caminho dourado para o céu. Então começo a me lembrar aos poucos de onde estou. O quarto da Ana! [Uma maluca estudante de direito e com uma tatuagem de uma passagem bíblica nas costas (céus! onde fui me enfiar!)] E porque estou — mas isso não é importante. Visto as roupas e vou para casa. Se eu tivesse algum dinheiro comprava uma garrafa de vinho e tentava escrever algo foda, ou pelo menos aproveitaria a viagem ficando bêbado e me achando o cara mais radical da cidade. Fazendo sombras em neons e músicas eletrônicas gravadas por psicóticos anônimos. Com o braço pra fora da janela do ônibus cortando o vendo e deixando que a cidade fale um pouco mais que eu. Gosto de halls de hortelã na boca e a visão tranquila das pessoas normais na calçada. Abutres sacanas com espingardas de dois canos sobrevoando a avenida. Uma prostituta apaixonada e uma jornalista que não acredita no amor. Amor? Mas do que estou falando? Mantenha o espírito, boy, a suave melancolia está morta de bruços no banheiro. (puts, passei do ponto). A longa caminhada se alonga. Escadarias são coisas tristes demais — mas aí eu me lembro que confundo tristeza com cansaço. Já estou dentro de casa. As luzinhas do modem piscando felizes por me ver. Fones de ouvido embolados numa caixa de sapato. Preparo um café. Olho pela janela. Quem sabe um dia passe um meteoro? Ana manda um SMS: “Tô preocupada, você sumiu!”. Não se preocupa, que já enrolei o pacote de bolachas pra que não ficassem murchas demais. Quem sabe a gente ainda possa dormir e acordar na escadaria do teu prédio. Talvez eu escreva aquela carta que pensei em escrever. Ou quem sabe eu não te ligue mais. Pense nos campos de trigo e no orvalho de manhã. No suor dos nossos corpos em um verão perto do mar procurando um posto de gasolina pra comprar uma garrafa de tinto seco. A Terra é o lugar mais bacana do universo pra gente morrer de amor. Sou um mágico maluco. Pouco mágico e muito maluco. Mas aí, eu sei, isso é divertido.
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