Lembro de quando te vi pela primeira vez. Alguém havia lhe abandonado e lá estava você: ainda com os olhos fechados, enrolado nuns panos velhos, cheirando a leite. Na época a gente nem tinha uma casa pra morar, vivíamos de favor nos fundos da casa da vovó. Ninguém sabia o seu nome, daí fiquei lhe chamando de Pirata, não me pergunte o porquê. Todos te paparicavam muito, por que você era bem gordinho e engraçado e logo você aprendeu a engatinhar e nunca mais esqueceu: até hoje, só anda sobre duas pernas quando eu te pego pelos braços. Nunca te faltou mamadeira, e as visitas te achavam lindo e profetizavam que você seria um garotão grande e forte quando crescesse. Bem, não foi o que aconteceu. De uns anos pra cá você teve aquela doença crônica que te enfraqueceu e você passou a babar muito e a cheirar mal. Hoje as pessoas te evitam por conta disso, e eu sei que você fica triste. Eu mesmo evito te fazer carinho quando você vem ansioso e carente me receber assim que eu chego do trabalho, correndo pra cima de mim, mas eu preciso usar essa farda por mais alguns dias e, por isso, fujo de você. E quando eu troco de roupa, me sinto meio culpado, e então volto pra te fazer um cafuné.
TODAS AS QUARTAS-FEIRAS
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