Eu não sou mais eu, Natanael.
Quando eu nasci, me registraram no cartório.
E logo em seguida entrei para o cadastro de consumidores
O leite materno me sustentaria nos seis primeiros meses
Mas me deram leite INDUSTRIalizado
Para afogar meu choro, me deram um pipo de MARCA
Eu só parava quando ouvia um SUCESSO na FM
Mas tinha que ser um daqueles com apelo COMERCIAL
Eu não sou mais eu, Natanael.
Na infância desejei entrar na TV
Como não conseguia adentrá-la
Então desejei um trem da Estrela que vi na TV
Mas um dia descobriram que eu era míope
E colocaram em meu rosto um ÓCULOS de MARCA
Dai minha visão passou a ser MARCADA também
Eu não sou mais eu, Natanael.
Quando cai correndo um dia aos 10 anos
Colocaram na minha ferida um BAND-AID
E depois eu quis fazer natação
Mas meu pai não encontrou a bóia da MARCA
Da MARCA que a instrutora indicou
Depois veio a SESSÃO DA TARDE, as NOVELAS
Então eu quis ser astronauta
Triste ideia o máximo que consegui
Foi colocar um dentro de uma nave
Uma nave feita de LEGO
Eu não sou mais eu, Natanael.
Na adolescência quis ser ROCKSTAR
Mas logo depois meu violão GIANNINI quebrou
Um dia desejei uma tal garota
Mas ela ia pra escola de ESCORT
E eu de MOUNT-BIKE
Ela usava perfume do BOTICÁRIO
Eu fedia o chulé do meu ALL-STAR
Eu não sou mais eu, Natanael.
Depois eu quis perder a virgindade
Não deu certo porque ela disse:
Que só iria com camisinha JONTEX
Hoje quero ser escritor
Mas me exigem um BEST-SELLER
Quer dizer bem visto pelos demais
E agora estou certo de uma coisa
Eu não sou mais eu, Natanael.
E nem vocês, são vocês.
Nós somos PROPAGANDA.
2 comentários:
Beleza de poema. Somos um produto do capitalismo canibal. Paulo Dias
Com certeza Paulão!!!
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