– Devagar com o andor,
caros leitores, o já imensamente aguardado encontro entre Adenílson e seu
agressor está para acontecer, pois Adenílson já cruzou o portão do colégio e,
ato contínuo, o agressor partiu em sua direção, enquanto Luisinho comia
prosaicamente uma batata-frita numa barraca em frente ao colégio, junto ao
mesmo muro de onde o agressor havia se descolado com sangue nos olhos rumo a
Adenílson, feito águia que viu, sei lá, o preá, inventem aí vocês uma metáfora
conveniente, o fato é que o agressor atravessou a rua correndo em direção a
Adenílson, que, em vez de fugir, deu uma de
mocinha-peituda-de-filme-de-terror-que-vê-o-assassino-psicopata-surgir-do-nada-de-facão-em-punho-bem-na-frente-dela,
estacou o passo e ficou lá, parado, imóvel, gritando por socorro, mas baixinho,
em pensamento, a vergonha falava mais alto que o medo, as mocinhas peitudas de
filme de terror não têm desses pudores, gritam mesmo e pronto, não têm vergonha
de dar xilique diante de milhões de telespectadores, essa mesma vergonha que,
combinada com o medo, fez Adenílson ficar caladinho e criar raiz onde ele
estava, vendo, em câmera-lenta, o agressor se aproximando rapidamente.
– Pega uma ripa, seu prego!,
era a mensagem telepática que Luisinho tentava enviar para Adenílson, mas
assim, sem super-poderes mutantes nem nada, fica difícil, talvez por isso
Adenílson tenha simplesmente ficado lá, completamente paralizado, robotizado
pelo medo. O agressor se aproxima de Adenílson, Luisinho, da barraca, observa
tudo friamente, ele vê a porra do agressor falar com o novato, que fica calado,
de cabeça baixa, tenta ir embora, o agressor não deixa, derruba os livros do
novato no chão, que se abaixa pra pegá-los, e, bem na hora em que o agressor ia
dar um bicudo nas fuças do novato, Luisinho chega do nada e empurra o agressor,
livrando literalmente a cara de Adenílson.
– Que porra é essa,
gopádi?, diz o agressor enquanto tenta se soltar de Luisinho, tenta, mas não
consegue, Luisinho é forte como um touro, então o agressor começa a usar outra
tática: – Féla da puta, qualé a tua, tu vai ficar defendendo essa bichinha
tarada toda hora agora, é? Vai chupar o pau dele também? Vai dar teu cú pra
ele, logo, vai, porra, tu é mó viadão também, que eu sei, caralh..., ele não
terminou de dizer essa bela palavra, na verdade nem chegou a chegar na terceira
sílaba, só a grafamos aqui pra mó de que os leitores possam saber qual era a
palavra que ele ia dizer, já que, na verdade, ele só disse cará..., mas, se
houvéssemos grafado só cará..., talvez os leitores não chegassem a identificar
que caralho era esse que o agressor ia dizendo mas que não chegou a dizer
porque, antes que o houvesse completado, Luisinho lhe acertou bem no nariz com
o soco inglês que ele sempre trazia no bolso do moletom, mas que nunca antes
havia mostrado a ninguém, e que havia ganho do pai quando a mãe encasquetou de
matriculá-lo nesse colégio violento e nenhum dos dois pôde fazer nada para
impedir, porque nenhum deles tinha moral pra mandar em porra nenhuma dentro de
casa, Luisinho porque era gay, seu pai porque fazia sua mãe engolir muitas
amantes. O sangue jorrou do nariz quebrado, o agressor levou as mãos ao rosto,
mas Luisinho não se apiedou e mandou mais um soco na cara do agressor.
– Isso é pra você aprender
a não chamar os outros de viado, seu merda, ainda mais quando sabe que o cara é
viado, disse Luisinho ao agressor, e, virando-se para os seus até então
comparsas: – E isso vale pra todos vocês, bando de féla da puta!
O agressor recuou e se
recurvou com o impacto do segundo murro, que imediatamente lhe abriu uma buceta
no meio da bochecha esquerda, mas ele estava longe de querer se entregar, se
dar por vencido, jogar a toalha, admitir a derrota e pedir penico urgente,
assim, quando Luisinho se virou para retornar à barraca de batata-frita, onde
havia deixado sua mochila, o agressor se levantou, pegou uma ripa de madeira
que jazia perto, provavelmente colocada ali pelo destino especificamente para
aquele fim, é impressionante como as periferias estão inundadas por um mar de
destroços perfuro-cortantes, tipo pedaços de pau, cacos de vidro, telhas
partidas, tijolos quebrados, só e somente só coisas que podem ser usadas para
causar o maior derramamento de sangue possível, como a ripa que o agressor
havia pego e que, como não poderia deixar de ser, ainda por cima tinha um prego
enferrujado na ponta, e ele haveria acertado Luisinho bem no meio das costas se
este não houvesse sido alertado pela turma das bichinhas pão-com-ovo, que,
vendo o agressor se aproximar, de ripa afiada em punho, daquele insólito
defensor de um dos seus que lhes surgia do nada, ou antes, dos próprios flancos
inimigos, começou a gritar:
– Cuidado! Atrás de você!
CONTINUA...
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