sábado, junho 23

Soco Inglês- 3 episódio



– Devagar com o andor, caros leitores, o já imensamente aguardado encontro entre Adenílson e seu agressor está para acontecer, pois Adenílson já cruzou o portão do colégio e, ato contínuo, o agressor partiu em sua direção, enquanto Luisinho comia prosaicamente uma batata-frita numa barraca em frente ao colégio, junto ao mesmo muro de onde o agressor havia se descolado com sangue nos olhos rumo a Adenílson, feito águia que viu, sei lá, o preá, inventem aí vocês uma metáfora conveniente, o fato é que o agressor atravessou a rua correndo em direção a Adenílson, que, em vez de fugir, deu uma de mocinha-peituda-de-filme-de-terror-que-vê-o-assassino-psicopata-surgir-do-nada-de-facão-em-punho-bem-na-frente-dela, estacou o passo e ficou lá, parado, imóvel, gritando por socorro, mas baixinho, em pensamento, a vergonha falava mais alto que o medo, as mocinhas peitudas de filme de terror não têm desses pudores, gritam mesmo e pronto, não têm vergonha de dar xilique diante de milhões de telespectadores, essa mesma vergonha que, combinada com o medo, fez Adenílson ficar caladinho e criar raiz onde ele estava, vendo, em câmera-lenta, o agressor se aproximando rapidamente.

– Pega uma ripa, seu prego!, era a mensagem telepática que Luisinho tentava enviar para Adenílson, mas assim, sem super-poderes mutantes nem nada, fica difícil, talvez por isso Adenílson tenha simplesmente ficado lá, completamente paralizado, robotizado pelo medo. O agressor se aproxima de Adenílson, Luisinho, da barraca, observa tudo friamente, ele vê a porra do agressor falar com o novato, que fica calado, de cabeça baixa, tenta ir embora, o agressor não deixa, derruba os livros do novato no chão, que se abaixa pra pegá-los, e, bem na hora em que o agressor ia dar um bicudo nas fuças do novato, Luisinho chega do nada e empurra o agressor, livrando literalmente a cara de Adenílson.
– Que porra é essa, gopádi?, diz o agressor enquanto tenta se soltar de Luisinho, tenta, mas não consegue, Luisinho é forte como um touro, então o agressor começa a usar outra tática: – Féla da puta, qualé a tua, tu vai ficar defendendo essa bichinha tarada toda hora agora, é? Vai chupar o pau dele também? Vai dar teu cú pra ele, logo, vai, porra, tu é mó viadão também, que eu sei, caralh..., ele não terminou de dizer essa bela palavra, na verdade nem chegou a chegar na terceira sílaba, só a grafamos aqui pra mó de que os leitores possam saber qual era a palavra que ele ia dizer, já que, na verdade, ele só disse cará..., mas, se houvéssemos grafado só cará..., talvez os leitores não chegassem a identificar que caralho era esse que o agressor ia dizendo mas que não chegou a dizer porque, antes que o houvesse completado, Luisinho lhe acertou bem no nariz com o soco inglês que ele sempre trazia no bolso do moletom, mas que nunca antes havia mostrado a ninguém, e que havia ganho do pai quando a mãe encasquetou de matriculá-lo nesse colégio violento e nenhum dos dois pôde fazer nada para impedir, porque nenhum deles tinha moral pra mandar em porra nenhuma dentro de casa, Luisinho porque era gay, seu pai porque fazia sua mãe engolir muitas amantes. O sangue jorrou do nariz quebrado, o agressor levou as mãos ao rosto, mas Luisinho não se apiedou e mandou mais um soco na cara do agressor.
– Isso é pra você aprender a não chamar os outros de viado, seu merda, ainda mais quando sabe que o cara é viado, disse Luisinho ao agressor, e, virando-se para os seus até então comparsas: – E isso vale pra todos vocês, bando de féla da puta!
O agressor recuou e se recurvou com o impacto do segundo murro, que imediatamente lhe abriu uma buceta no meio da bochecha esquerda, mas ele estava longe de querer se entregar, se dar por vencido, jogar a toalha, admitir a derrota e pedir penico urgente, assim, quando Luisinho se virou para retornar à barraca de batata-frita, onde havia deixado sua mochila, o agressor se levantou, pegou uma ripa de madeira que jazia perto, provavelmente colocada ali pelo destino especificamente para aquele fim, é impressionante como as periferias estão inundadas por um mar de destroços perfuro-cortantes, tipo pedaços de pau, cacos de vidro, telhas partidas, tijolos quebrados, só e somente só coisas que podem ser usadas para causar o maior derramamento de sangue possível, como a ripa que o agressor havia pego e que, como não poderia deixar de ser, ainda por cima tinha um prego enferrujado na ponta, e ele haveria acertado Luisinho bem no meio das costas se este não houvesse sido alertado pela turma das bichinhas pão-com-ovo, que, vendo o agressor se aproximar, de ripa afiada em punho, daquele insólito defensor de um dos seus que lhes surgia do nada, ou antes, dos próprios flancos inimigos, começou a gritar:
 – Cuidado! Atrás de você!
CONTINUA...

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