quinta-feira, junho 21

Provas, MERDAS e notas.


Acordar cedo. Corrigir provas. Lançar notas no sistema. Elaborar novas provas. Torcer para que os alunos consigam finalmente responder corretamente. Ficar frustrada ao perceber que os alunos erraram porque colaram de alguém, e isso é claramente evidenciado pela marcação apagada de lápis e substituída por outra letra, a errada. E começa todo o processo novamente. Acordar cedo, corrigir provas, lançar notas no sistema. Elaborar outra prova, agora a última... a definitiva. É todo conteúdo, os alunos sabem, mas continuam perguntando o que vai cair.

Na turma, o burburinho, o desespero, o choro, o ranger de dentes, mesmo não sendo aparentemente o fim do mundo. É só uma prova final. Aliás, prova final de Filosofia é sempre uma piada, porque se depois de ter feito duas provas bimestrais e uma prova substitutiva o aluno não conseguiu entender que Ética e Moral não são a mesma coisa e que mesmo em um mundo de competição é preciso seguir minimamente a certos códigos de condutas, não vai ser na prova final que ele vai compreender porque diabos ele precisou fazer essa disciplina.



Mas, voltemos ao sistema. Depois de tantas provas, de tantas notas postas no sistema e de tantas conferencias pra ter a certeza de que tá tudo certo e sintonizado entre o escrito no papel e o digitado no sistema, vem o momento de satisfação. Sim, pois cada aluno irá questionar o porquê da sua nota, irá recontar pra ver se a professora nada errou, irá choramingar por pontos ou por décimos que “faltaram”, até que diante da prova final irá desesperar-se e lamentar todas as merdas que deveria ter feito. Sim, porque se estudar Filosofia em um curso da área de exatas é uma merda, passar na disciplina envolve muita merda posta em panos limpos, ou melhor, em folhas limpas.

Depois da prova, outro lamento, algumas lágrimas, a descrença. E já foi, quem se livrou da merda se livrou, quem não se livrou, tem mais um semestre pra jogá-la no ventilador.

E enquanto isso, no corre-corre, aluno chamando na sala dos professores. Aluno querendo saber de nota. Aluno querendo implorar por um ponto. Alunos chorando por meio ponto. Aluno querendo aprender a fazer Projeto de Pesquisa em um dia. Professores todos atordoados. Digita nota, coloca presença, bate o ponto. Não esquece o crachá. Tem que participar de banca de monografia. Tem que arrumar as malas pra viajar antes mesmo de tudo acabar. Tem que senta pra outros montes de coisas resolver e tudo que eu quero é só sentar e escrever a minha crônica da semana pro ponto.

Diga-se de passagem é a minha fuga de toda a correria da vida de docente. É meu momento de esquecer as regras, os burburinhos, os choramingões, a linguagem acadêmica, a métrica e simplesmente escrever outras merdas diferentes das provas ou não. Mas, é quando posso sentar, pensar e simplesmente, escrever.

Mas, como é que se faz isso quando tudo que está escrito acima excluiu qualquer possibilidade de inspiração? Diz Eduardo Melo que o Drummond quando não estava inspirado escreveu o poema lá a pedra no meio do caminho. E esse eu nem precisava dizer que é o trecho mais conhecido da obra do cara que até ajudou na reformulação da língua portuguesa e que quase ninguém sabe desse último feito, mesmo sabendo quase tudo do tal trecho.

Sem prevenções de sucesso e nem mesmo de travessar a pedra do meu caminho, já que posso fazer dela uma companheira, eu só queria mesmo era escrever alguma coisa que fizesse mais sentido ou causasse mais impacto que provas, merdas e notas.