Acordado no meio da noite,
não! Não era madrugada, era noite um
pouco depois de perceber o adormecer de cada integrante de sua família. Esperou
de forma calculista até perceber que ninguém teria mais condições de acordar.
Levantara de um sono leve, porém dolorido da bebedeira que vinha da tarde
insólita, a dor na cabeça disputava centímetro a centímetro, concorrendo à dor
que estava em sua mão, impactada na parede que assistia a perda. O telefone
quebrado narrava o desprezo. Era o fim de uma era que naquele momento parecia o
mundo para um mero mortal.
Levantara vagarosamente sem
fazer barulho. Dirigiu-se à cozinha e procurou água sucumbindo à sede; na sala,
roubou um cigarro da mãe e debruçou na janela contemplando uma cidade que não
era sua. Pensamentos soltos revelavam mais uma vez o fim e mais uma vez a
projeção de outro alguém abraçando e roubando beijos que um dia foram seus.
Tentando não acreditar e tendo uma falsa certeza de que tudo isso seria passageiro,
que não passara de uma fase na vida de duas pessoas tão interligadas, tão
cúmplices, tentou se confortar, mas a noite é escura e fria. Castigou-o até o
escorrer das lágrimas procurando o telefone de “créditos infinitos”. Tentou uma
ligação ousada, no entanto ouviu a rejeição. Ouviu do outro lado o atender e o
desligar e depois a caixa postal e a tristeza o domou. O possuiu.
Mas tudo bem contemplando a
noite, não a cidade! À noite, digo, agora sim! A madrugada reconheceu a
indiferença como se toda a história de vida de um casal não passara de uma
passagem, de uma conveniência, para um de ambos, infelizmente não dele, mas sim
de um alguém empolgado por está longe.
E longe mesmo estava o pensamento
que refugiava em lembranças. Parecia sentir o cheiro e a atmosfera daqueles
momentos sagrados, venerados e embotando a cada lágrima escorrida. Essa
lembrança Já não tão amiga, não lhe fazia mais sorri, mas sim refletir e
especular onde poderia ter se fixado o erro, onde teria por algum descaso
autorizar todo aquele paraíso virar uma insônia.
Pega o celular mais uma
vez... Opa! Beleza! Chamou... Dois tons e a mais uma vez a recusa, e a lágrima
escorre com mais intensidade roubando-lhe soluços. Sabe que a inconveniência,
juntamente a solidão e desespero estão ao seu lado, como um abraço de inimigo.
No entanto ouvindo cada sentimento começa fazer coisas que seus princípios
reclamam e lhe indagam o porquê daquela humilhação.
No
entanto, se justifica pensando que não há mais nada a perder quando já está tudo
perdido, incluindo estruturas e princípios. Mas tudo bem o tempo se encarrega,
como dizem especialistas clichês, forma ínfima para confortar o conflito
interno de uma ideia e história inacabada.
Corre
na geladeira procura algo que amenize a dor, uma cerveja, um vinho, algo que
lhe faça, só mais uma vez segurar aquilo que lhe fazia mal, no desejo intenso de expurgar de se livrar de
todo aquele sofrimento. Os olhos molhados, mas com sede, de só mais uma vez uma
a imagem, a imagem do sorriso, da pequena mão e gorda tapando a boca a cada
sorrir, dos olhos fechados, os ouvidos suplicavam mais uma vez aquela
gargalhada engasgada de voz carinhosa que lhe fazia bem. A voz que como música,
o fazia se sentir homem e ao mesmo tempo o saciava ao anoitecer e lhe fazia dormir,
no desejo fulminante e sucumbido das diversas noites sentir aquele cheiro
tendo-o a disposição para seu o roubo, na disposição de estar sempre ali do
lado, atingindo a narina cicatrizada das espinhas mal extraídas, do rosto mal
extraído. Não tinha mais saída.
A
noite passando, não queria reparar, mas o Sol surgia, longe de sua cidade
reparava a parte de tudo, que aquele Sol surgia mais cedo. O deixou assustado,
(Nossa! 5 da manhã) já poderia ligar. Tenta pegar só mais uma vez o telefone,
mas é interrompido na passagem até a sala para obtenção do mesmo com a sua mãe
o vendo andando pela casa.
E
de forma surpresa lhe interroga: “o que faz acordado?” E sabendo que tudo
aquilo teria que ser oculto somente respondeu: “acordei cedo, porque dormi
cedo”...
O
dia insistiu em ser dia e ele em mais um dia tentou se levantar.
Um comentário:
tem memórias que são como aquele patinho de borracha da banheira, por mais que se tente afogá-lo ele sempre remonta à superficie.
IGOR N.
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