quinta-feira, maio 3

Diário de um Fudido - Um Tostão

Levanto todos os dias as 6:50, pelo menos é como está configurado o meu despertador acoplado no celular sem muita tecnologia, ponho os pés no chão frio de radiação cansada, esfrego os olhos, passo pela cozinha estreita, me direciono ao banheiro. Como a conta de água está paga tomo um banho frio para despertar minhas idéias como um choque desfibrado, pego uma toalha preta que de tão macia incomoda (parece não enxugar direito). Volto para o quarto, seleciono a roupa menos gasta, o tempo e a corrosão oriunda do meu suor denigre as cores cintilantes que vem no ato empolgante de obtenção desta vestimenta, mas é do suor que escorre dos meus poros que consigo manter um estar comum e social. Após a seleção sem muitas dúvidas me visto e volto a cozinha, passo um café cheio de impostos, caro para uma iguaria tão comum, mas como preciso dele para acordar tenho que obtê-lo e pagar por ele em uma bagatela acessível mas que incomoda, retorno ao banheiro escovo os dentes com uma escova gasta pelo motivo de nunca me lembrar de comprar uma nova, a observo, passo os dedos em suas cerdas, dou uma pequena risada para minha displicência e saio.


Finalmente saio da minha residência, bem no centro da cidade de São Luis do Maranhão, olho para o meu relógio de pulseira danificada com os dígitos opacos, mas com os ponteiros funcionando, ok 7:20, vou chegar a tempo, passo por pessoas estranhas que dão bom dia, por pessoas estranhas que te olham e mexem a cabeça com um sinal de cumprimento, pessoas conhecidas que te dão um abraço no desejo de começar o dia bem e pessoas conhecidas que finge que não te olha e eu também finjo que não vejo.


Chego ao ponto de ônibus, uns 5 minutos após a última vista no relógio, as 7:30 pego a máquina barulhenta movida a diesel que além de nos levar como gados, tem como o objetivo secundário dá trabalho aos ambientalista em pesquisar sobre seus dejetos gasosos. Nunca pára no ponto de ônibus, sempre por trás, no meio da rua, quando o sinal fecha sou obrigado a me desafiar em meio aos automóveis e com raiva bato na porta pra que o motorista risonho faça abrir, o vejo com cara de reprovação e subo. Pago uma passagem para sustentar seu salário e acordos com a prefeitura que desde o começo do ano divulgou que se a frota não aumentasse e a qualidade dos ônibus não melhorassem reduziria o valor da frequente tarifa, os empresário dos coletivos alegaram que para que isso acontecesse teriam que aumentá-la, ficaram com o lucro e a gente com o prejuízo e sem qualidade, mais uma vez... Manobra, mas pouco importa o nosso prefeito vai bem e isso sim que importa, afinal, qual é o prefeito que tem uma vaca Holandesa num curral climatizado ouvindo Beethoven? num custo superior ao seu salário? pois é o nosso tem, olha que legal? Aproveitando a deixa, a cidade cega não enxerga que as empresas do nossos querido representante tem lucros absurdos quando ele ocupa um cargo político, aquela velhinha que tinha em sua campanha para prefeito como carro chefe usava o jargão que dizia "agora sim vou encher meu buchinho" deve estar radiante com as promessas ao vento, para vaca holandesa dormir. Alguém aí já viu as "Kombis comunitárias" vendendo alimentos mais baratos? nunca vi, vejo as Kombis com a imagem da sua herdeira para Deputada para trazer alegria, de se ter uma vaca no comando.

Após a aprovação da catraca, sento e observo as ruas, com decorações lunáticas, um buraco mais belo que o outro, vejo o empenho das pessoas em reagir e uma frase me bate o pensamento "Puta que Pariu".

Chego no escritório exatamente as 8:00, o portão uma luta para abrir, mas a pessoa que me aluga o prédio disse que se eu quiser ajeitar ele vai ter o prazer de não descontar do aluguel, com muita dificuldade adentro a minha sala, meu refúgio. por algumas horas me sinto um vietnamita num esconderijo em meio a sua guerra, apesar do Sol lá fora estar forte aqui é sempre confortavel.

Trabalho numa credencial do Detran (Departamento Estadual de Trânsito - O órgão que tem a finalidade de se preocupar com a segurança de veículos e seus condutores no estado do Maranhão, além disso serve como cabine de emprego para apadrinhados políticos, uma máquina de fazer dinheiro, terra de cemitério, o dinheiro que entra no Estado vai para o Esquema. Você já viu concurso público para o Detran?... hehehehehehe, filie-se a alguma merda de partido qualquer e sua vaga está garantida, mas não denuncie o esquema isso dá exoneração...)

Aqui é ótimo, dependo das autorizações do Detran para trabalhar, sou autônomo dependente do serviço público, resultado? Fudido! Além do DETRAN atrasar o nosso serviço existem também os nossos queridos amigos despachantes que não dão uma porrada num pino de remarcação, mas querem quase a metade do valor do serviço (já atrasado pelo DETRAN), só porque me indicou para a execução do mesmo. E se eu me negar a dá uma pontinha (de picadeira) eles jogam o meu concorrente na minha cara. Ah! sim, meu concorrente... de tanto a gente brigar, viramos amigos, toda vez que nos vemos nos falamos e dizemos "é Foda"... com a mesma dúvida no fim da conversa "quem será que é o mais fudido de nós dois?"


Hora do almoço, um restaurante aqui perto, um grude que eles tem a cara de pau de chamar de refeição, Cardápio: *Carne de Sol - coloração: Verde; Frango Frito - Coloração: Branco (tão branco que você encontra o tempero escondido dentro da carne, tipo um sachê. tão branco que parece que o frango morreu de susto; Sarrabulho - se um frango é assim sarrabulho pode ser um suicídio espontâneo.

A tarde chega uns ou dois clientes, algumas vezes tenho a sorte de encontrar pessoas interessantes, um senhor de idade que com sua prosa me deixa um pouco menos entediado.


Fim da tarde chega pego de novo o ônibus super faturado, ando as ruas cansado, vontade de tomar algo... sufoco a vontade com um bocejo, ou um livro, ou uma TV. Durmo e nem sinto.


E amanhã? tudo de novo...

Um comentário:

Anônimo disse...

Valeu!