Por Davi Galhardo
Existem três maneiras
clássicas de se escrever um bom roteiro: o conflito do sujeito consigo mesmo, o
sujeito em conflito com o outro sujeito e, o sujeito em conflito com o
mundo. Três formas distintas é bem
verdade, que, no entanto preservam uma ideia central, ou seja, a ideia de
conflito. Dito isto, seria possível rastrearmos este traço no novo documentário
de Walter Carvalho? Nossa sugestão é afirmativa.
Em Um Filme de Cinema o cineasta Paraibano apresenta a relação
conflituosa da arte cinematográfica consigo mesma. O título denuncia e oculta o
desenrolar do trabalho em questão. O que observamos desde o primeiro plano, que
traz uma citação do Filósofo Jean-Paul Sartre, é a forma como o cinema entra
silenciosamente nas nossas vidas, e, na maioria dos casos nunca mais decide
sair. O ponto de partida da película de Carvalho é o Cine Continental, localizado
no Sertão da Paraíba, a partir do qual surge a metáfora da aparente decadência do cinema contemporâneo. Grandes realizadores
da sétima arte, como Hector Babenco, Julio Bressane, Andrew Wajda, Vilmos
Zsigmond, Ruy Guerra, Ken Loach, Béla Tarr, Gus Van Sant dentre outros,
oferecem suas perspectivas sobre o fazer cinematográfico. Alguns decidem começar
a pensar um filme pelo fim, outros pela trilha sonora que dá a atmosfera ao
trabalho etc. De onde se extrai a tese de que o cinema faz como que Tempo e Espaço conseguem dialogar de uma
forma não convencional com aquilo que chamamos de Real. Ou seja, o cinema
brinca com o tempo, copia, recorta, apaga, em suma: faz a decupagem da
existência. No entanto, segundo o desenrolar do filme o cinema não é filosofia,
não tem um compromisso direto com a verdade, embora seja sempre capaz de nos
apresentar verdades eternas e imutáveis – a partir de sua própria linguagem é
claro. Destarte, em Um Filme de Cinema os
planos longos são considerados mais democráticos, as ações rítmicas são ideais,
imagem e movimento se contrapõem dialeticamente à imagem e tempo etc. (Categorias
ilustradas por filmes de Giuseppe Tornatore, Jean-Luc Godard dentre outros).
Por
fim, liberdade de criação e mercado são posicionados de forma contrária. Uma
querela com a qual a maioria das plateias já está minimamente habituada. Quem
faz o filme? A câmera é neutra? O cinema tem poder? São as questões secundárias
que emanam da linha em ziguezague surgida a partir da questão: o que é o
cinema? Seja lá qual for a resposta definitiva, o fato é que apesar das
dificuldades ele continua vivo e dando o que falar, como ilustra a sessão de
projeção no cinema no sertão paraibano que fecha o filme de Carvalho.
O filme será exibido no Maranhão na Tela !
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