Recentemente a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei chamada popularmente de “Lei da Palmada”, que coibi abusos, violência e maus tratos as crianças e adolescentes, até aí a lei e o estado deve intervir, entretanto, há um porém, o estado não está tirando a autoridade das mães e dos pais em educar os seus filhos?
Poderá ser um problema para as autoridades, porque as mães e os pais que educam os seus filhos e filhas tem o modo peculiar de cria-los. As criações rígidas nos moldes conservador, tradicional e cristão não serão mais permitidos? Que modelo de criação é ideal para educar os filhos e as filhas a partir de então?
O estado não pode intervir na educação e nem mesmo no modelo de educa-los, há famílias evangélicas, católicas, espíritas, umbandistas e todos os credos, apesar que justamente os evangélicos e católicos são os que mais perseguem outras religiões, tentam impor na sociedade os seus dogmas e o estado seguir somente os seus interesses.
O estado deve respeitar o seio familiar que é inviolável, cabe a família a educação de seus filhos e filhas, e a autoridade paterna e materna devem ser respeitados e nunca violados. Violência como disse anteriormente deve sim ser combatido com todos os rigores da lei, entretanto, não pode ser descartado como instrumento de educação das mães e pais a seus filhos e filhas.
Eu quando criança me lembro de um programa policial que fez muito sucesso no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) nos anos 1990, e tinha um repórter que tinha a fama com o seu bordão peculiar “Gil Gomes aqui e agora”, que é justamente o nome do programa “Aqui e Agora”, no Maranhão o Sistema Difusora afiliada do SBT criou o programa policial com a mesma nomenclatura “Maranhão Aqui e Agora”, que era exibido por volta de meio dia a 1 hora da tarde.
Um programa de grande sucesso em virtude das classes mais baixas assistirem diariamente, inclusive eu, e numa das reportagens retratou a história de um pai que havia sido preso pela polícia por espancar cruelmente o seu filho, e nessa época ainda não havia uma lei que proibisse os repórteres e cinegrafistas de gravar crianças e adolescentes com hematomas ou quaisquer sinal de violência.
E nessa reportagem que o pai foi levado a delegacia, ele surrou o seu filho com o galho de tamarindo somente pelas costas, sendo que antes ele pegou o jovem e amarrou as duas mãos do mesmo pra em seguida surrá-lo as costas, o repórter e cinegrafista gravou o jovem com as costas toda marcada deixando a pele viva, avermelhado extremamente inchado, a surra foi tanto que as costas do garoto tremia involuntariamente.
Ao perguntar pro pai o porquê da surra, ele alegou que o seu filho havia furtado a carteira do vizinho e justificou que o preferia na condição de pai castigar o próprio filho do que a polícia, a alegação do pai não deixa de ser plausível e compreensível, apesar da extrema violência.
Uma surra dependendo da gravidade e determinadas situações torna-se necessário, porque a mãe e o pai se quiser ter o controle sobre o filho e a filha, esse controle deve começar desde o berço, não podemos confundir independência e liberdade na fase adulta com a fase de aprendizagem.
As crianças e os jovens devem ter amor e carinho, mas acima de tudo a proteção da mãe e do pai, nem que seja de forma rígida, eu mesmo sou fruto de uma criação extremamente rígida, criado e educado por vó materna, eu não tive uma adolescência como muitos adolescentes da minha época, de ir as festas, farras e chegar de madrugada ou no dia seguinte.
A minha avó me controlava inclusive quando ia a escola e esperava chegar no horário quando ela sabia o horário de acabar a aula, se eu chegasse atrasado a bronca era certa, e quando criança se eu aprontasse, a surra era certa, seja de cinto, galho de goiabeira e corda, eu empinava pipa as escondidas, jogar vídeo game também não era permitido e eu brincava as escondidas, pouquíssimas vezes joguei bola na rua porque ela não deixava.
Todas essas proibições eu sofri e além do mais, sofri com o bullyng nos colégios onde estudei e na rua onde moro quando era adolescente, devido ao fato de ter sido criado por avó de forma bastante rígida, pessoas comentavam que eu iria me tornar um gay, mimado ou inexperiente em convívio social na sociedade e inclusive na minha vida sexual, em que as pessoas debochavam por fato de não ter tido namoradas.
Eu me sentia frustrado, pois queria curtir a vida como qualquer outro adolescente e via na minha avó que até hoje eu falo em tom de brincadeira “a coronel vestido de saia” que no seu reino a norma é “eu quero, eu posso, eu mando”, devido a isso, eu respondia e xingava, mas não tinha coragem mesmo de fato bater de frente com ela e preferia fazer as escondidas sem ela saber ou driblar a sua autoridades.
As poucas vezes que eu fui a uma boate pra curtir o balanço, eu iria pra casa de uma tia minha com a desculpa de dormir na casa dela e de lá ia pra festas com os vizinhos, só assim eu ia aos eventos que ocorria na cidade ou no bairro de preferencia, mas quando minha avó descobriu foi uma discussão feia entre ela e minha tia materna...
Hoje que eu estou prestes a completar 33 anos, eu tenho a liberdade que tanto sonhei na adolescência, saio a noite e chego em casa só no outro dia, bebo e fumo (processo em parar de fumar, só tenho umas recaídas quando bebo, mas não compro carteira e nem isqueiro tenho mais, se eu comprar, compro em unidade(retalho) pra não comprar carteira), faço tudo e mais um pouco como queria fazer quando era mais jovem, a diferença é que trabalho e tenho como sustentar a minha liberdade, ao contrário quando era garoto que queria usufruir e não tinha meios de como manter.
Hoje eu percebo o quanto a minha avó queria me proteger dos males que a sociedade oferece e o adolescente se torna a presa fácil, me arrependo dos xingamentos, insultos e bate boca que ela e eu travamos, apesar da rigidez exacerbada, agradeço a ela pela criação e educação que tive.
O caso da minha mãe-avó não é único, há muitas mães e pais com o perfil parecido, educação protecionista que exagera na rigidez e mantem autoridade com mãos de ferro, e usa dos castigos físicos caso necessário quando o seu poder e autoridade é desafiado.
O estado não pode intervir e nem mesmo tirar a autoridade das mães e pais em criar os seus filhos, porque o estado não tem competência de criar e educar as nossas crianças e a sociedade bem menos, se deixarmos nas mãos de pessoas sem nenhum vinculo materno e paterno, muitas de nossas crianças terão um futuro preocupante.
Deixemos as nossas mães e pais bater, reprimir e castigar as nossas crianças e jovens quando necessário e por motivo justo que leve a essa atitude, melhor ser castigado por mãe e pai a ser castigado pela sociedade, pela polícia e/ou internatos/casas de apoio e proteção ao menor que na pratica é uma escola para o mundo do crime.
Hoje é comum jovens morrerem com o tiro no peito ou na testa, jovens serem presos precocemente e cada vez mais cedo irem para a marginalidade/criminalidade que a maioria das vezes se torna um caminho sem volta, da mesma forma os que são contrários a redução da maioridade coma alegação de que não irá resolver em nada a problemática que aflige as famílias, especialmente as pobres e sem estrutura.
Também não irá resolver em nada a intervenção do estado ao intrometer no modo educacional de cada mãe e cada pai e tirar a autoridade dos mesmos, se é contra a redução da maioridade penal é contrário ser a favor da lei da palmada, porque nenhuma escola educa se a educação não começar dentro de casa com a mãe e o pai.
É correta a frase citada nas escolas militares em que a disciplina, educação e obediência são regras primordiais no modelo educacional executado pela polícia, corpo de bombeiros, exército, marinha e aeronáutica ou qualquer escola que adota o modelo pedagógico militar.
“Educar hoje para não punir amanhã”
Essa frase é mais que verdadeira independente de quem a citou e o seu cunho ideológico.
Um comentário:
A questão não é a interferência do Estado na educação, mesmo porque a lei não estabelece o que é ou não é permitido. Trata-se apenas de uma norma (que deve ser interpretada junto ao Estatuto da Criança e Adolescente) que vem a tentar educar os pais a evitar violência desmedida e desnecessária na criação das nossas crianças. A Palmada em si não virou crime, e o espancamento não passou a ser um. Mas o assunto entrou na mídia, ganhou repercussão e colocou a gente para pensar. A Lei diz tudo que o ECA já previa e sempre disse, mas com essa visibilidade alcançada esperamos não ter mais casos a perder de vista de crianças/adolescentes em situações de risco por castigos fora de limites e situações vexatórias e absurdas.
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