Ah, suas decepções constantes não me preocupam mais, apenas
me entristecem. Não consigo mais aceitar tal responsabilidade, não posso mais
ser a culpada e a condenada por suas frustrações, por tudo que não se
concretizou.
Ah, o peso de tuas escolhas não me pertencem, o quilo das tuas reações não estão ao
alcance das minhas emoções e nada posso fazer. Apenas percebo os cacos de vidro
adentrando a carne de meus pés, já assolados pelo metal aquecido que me
impuseste como chão. Não há nada a ser feito além de esperar a tua chama perder
o fôlego e se cansar de lamber meus pulsos.
Não jogue mais em minhas mãos os atos que não cometi, não
sou reato de minhas reações, ante a teus estímulos injustos. Não desejo para
mim as alças da tua bagagem de privações que não causei, dos sonhos que não
tive, das mazelas que não trouxe.
Ó crucifixo pesado que se arrasta em meus ombros, Ó pena
inchada cravada entre meus dedos, Ó coração inflamado e desinchado pelo teu
desamor. ó coleira desgraçada que me prende neste cercado, E me vejo obrigada a
encarnar minha sentença condenatória irrecorrível, cujo lastro probatório não
participei. pago com desprazer tal indenização.
E se de ti não faço companhia,
E se de mim não há escapatória
Canto a minha translucidez ,
e transformo tua ira em solidão.
2 comentários:
Muito Bom, Maria Ligia.. é autobiográfico?
Natanael Castro
Obrigada, Natanael. Todos os meus textos são extraídos de mim, do que sinto. Não sei se posso dizer que são autobiográficos, mas definitivamente são intimistas.
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