terça-feira, outubro 15

O Observatório

Por Maria Ligia Ueno

Ah, suas decepções constantes não me preocupam mais, apenas me entristecem. Não consigo mais aceitar tal responsabilidade, não posso mais ser a culpada e a condenada por suas frustrações, por tudo que não se concretizou.

Ah, o peso de tuas escolhas não me pertencem, o quilo das tuas reações não estão ao alcance das minhas emoções e nada posso fazer. Apenas percebo os cacos de vidro adentrando a carne de meus pés, já assolados pelo metal aquecido que me impuseste como chão. Não há nada a ser feito além de esperar a tua chama perder o fôlego e se cansar de lamber meus pulsos.

Não jogue mais em minhas mãos os atos que não cometi, não sou reato de minhas reações, ante a teus estímulos injustos. Não desejo para mim as alças da tua bagagem de privações que não causei, dos sonhos que não tive, das mazelas que não trouxe.

Ó crucifixo pesado que se arrasta em meus ombros, Ó pena inchada cravada entre meus dedos, Ó coração inflamado e desinchado pelo teu desamor. ó coleira desgraçada que me prende neste cercado, E me vejo obrigada a encarnar minha sentença condenatória irrecorrível, cujo lastro probatório não participei. pago com desprazer tal indenização.

E se de ti não faço companhia,
E se de mim não há escapatória
Canto a minha translucidez ,

e transformo tua ira em solidão.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito Bom, Maria Ligia.. é autobiográfico?


Natanael Castro

Maria Ligia Ueno disse...

Obrigada, Natanael. Todos os meus textos são extraídos de mim, do que sinto. Não sei se posso dizer que são autobiográficos, mas definitivamente são intimistas.