Os
últimos dias que estava ocorrendo o 7° Felis (Feira do Livro de São Luís) no
bairro Praia Grande do centro histórico de São Luís, aconteceu uma cena
lamentável aos olhos que estavam presente, uma agressão dos guardas municipais
ao suposto hippie que estava vendendo os seus produtos de artesanatos entorno
do evento que estava ocorrendo.
O
pior estaria por vir, com a sensibilidade das pessoas presentes ao verem o
“hippie” ser agredido de maneira covarde pelos homens da guarda municipal,
entra em cena o jovem advogado que não se conteve e resolveu se manifestar
contra a arbitrariedade e a detenção do “hippie”.
Está
certo que alguns “hippies” incomodam muitos frequentadores do local e turistas,
desde a pedir esmolas até cometer pequenos furtos, mas muitos destes são de
fato moradores de rua e dependentes químicos, e isso deve ser encarado como
caso social e saúde pública e não de polícia.
A
reação do advogado Hugo Farias em manifestar contra a detenção do “hippie”
contra os homens da guarda municipal voltou contra a si também, que os mesmos
homens da guarda tratam com truculência resolveram dar voz de prisão por
desacato, alguns vídeos postados nas redes sociais mostram o suposto
descontrole do jovem advogado sobre os guardas.
Alguns
que eu vi não consta o áudio, somente as imagens, e sem o áudio não dá pra
definir de forma clara o acontecimento, uns falam que o advogado Hugo Farias
humilhou os guardas ao afirmar que os seus salários não dá pra comprar a cueca
que ele veste, e esse foi o motivo dos guardas darem a voz de prisão e conduzir
até a delegacia da Refesa na Beira Mar.
O
outro vídeo que está circulando que mostra a suposta humilhação do advogado aos
guardas e o seu descontrole, é de apenas 10 segundos, muito pouco pra constatar
e além do mais não mostra o Hugo Farias em discussão com os guardas, e sim ele
sentado num balção da delegacia citada e falando as pessoas presentes sobre a
suposta afirmação no que ele disse, a exibição do vídeo é bem curto e não dá
pra constatar em nada no que disse o jovem advogado.
Não
estou aqui defendendo o Hugo Farias, entretanto, não vou demonizá-lo como tem
feito algumas pessoas, se ele disse ou não aos guardas que o salário que eles
recebem não dá pra comprar a cueca que ele veste, não vem o caso pelo aqui
neste artigo, se ele disse que provem de fato, caso ele tenha realmente
afirmado, eu lamento profundamente.
A
voz de prisão dada ao jovem advogado e levá-lo até a delegacia da Beira Mar, a
Refesa, se deu por um único motivo, por ser negro, isso mesmo que você acabou
de ler, por ser negro, não é mania de perseguição ou achar que tudo é associado
ao racismo.
Isso
ocorreu pelo fato dele ser negro, mas ele não é advogado William? Sim, mas não
isenta devido a cor da pele, e infelizmente isso acompanhará por toda vida, eu
falo isso porque sou negro e sei bem como as pessoas agem quando vê um negro
numa condição social mais elevada.
Eu
queria e muito que os homens da guarda municipal agissem com o advogado de pele
branca, olhos azuis e cabelos loiros e/ou sendo filho de desembargador,
promotor, procurador, corregedor, juiz, advogado influente ou político,
principalmente este último ocupar um importante cargo do governo e ter uma
forte influencia com as autoridades do poder judiciário.
Seria
capaz de dar a minha cara a tapa se os homens da guarda seriam capazes de agir
como agiram com o Hugo Farias, quem nunca ouviu esta frase? “Você sabe com quem
está falando?” Eu mesmo sei muito bem o que isto significa e o peso que carrega
esta palavra numa sociedade injusta, desigual, excludente, segregadora,
machista, homofóbica e racista, e o pior, uma sociedade que persiste em manter
os resquícios da escravidão que são muito presente em dias atuais.
Eu
mesmo nos primeiros anos que eu trabalhei na prefeitura de São Luís, trabalhei
em estacionamento na época era alugada a prefeitura que pertencia ao antigo
casino maranhense, sofri muitas humilhações e desaforos de alguns donos de
carros e até mesmo de alguns motoristas, e numa dessas eu sempre ouvia “Você
sabe com quem está falando?”
Se
supostamente o jovem advogado Hugo Farias afirmou isso aos guardas, isso é
devido ao fato dele fazer um curso extremamente conservador e elitista, o direito,
que apesar da existência das cotas raciais e o aumento de jovens pobres e de
escolas públicas ao curso de direito na UFMA (Universidade Federal do Maranhão)
e outras instituições públicas de ensino superior pelo Brasil afora, o curso
mantém as tradições de pertencer a elite e com o pensamento reacionário.
É
deste curso que se forma os filhos de juízes, desembargadores, políticos,
advogados, procuradores, corregedores, promotores e das pessoas da alta
sociedade pra se tornar futuros juízes, políticos, desembargadores, promotores
e até mesmo ministro do supremo ou tribunais superiores em Brasília – DF, é
deste ambiente que viveu academicamente e se formou o Hugo Farias, e nesse
ambiente a famosa frase “Você sabe com quem está falando?” é regra e corriqueira
ou até mesmo encarado com naturalidade nos corredores e nas salas de aula do
curso de direito.
Mas
eu ressalto, se o Hugo Farias afirmou ou não, isso não vem o caso deste artigo,
e sim a repercussão na cidade envolvendo o jovem advogado, que reitero o ocorrido
devido o fato dele ser negro. Você é contra a atitude dos guardas por terem
sido ofendidos? Não sou contra, mas eu
queria ver se eles teriam coragem de fazer com outro advogado sendo este
influente na sociedade ou filho de alguma autoridade.
Ele
é advogado, mas infelizmente a cor da pele será o empecilho de ser visto,
tratado e respeitado como ser humano, antes de saberem a sua função e condição
social, ele está passível a situação vexatórias e degradantes, e sempre haverá
alguém que vai querer manchar a sua imagem.
Eu
falo com o conhecimento de causa, já passei por isso mesmo sendo professor
(aprovado duas vezes no processo de seleção que haviam mestres e doutores
concorrendo, sendo que muitos destes não foram aprovados) da UEMA (Universidade
Estadual do Maranhão), muita gente duvida e questiona a minha capacidade
intelectual por eu estar lecionando na instituição de ensino superior, fui
vítima de abordagem policial em Loreto – MA ano passado (2012) quando estive na
cidade pela 1° vez pra lecionar, mas comigo os policias apenas fizeram
perguntas, quem eu era, porque eu estava na cidade, e tive que apresentar a
minha carteira de identidade, mas sem armas ou cassetetes em punho e muito
menos eles mandaram eu ficar de mãos pra cima, pernas abertas e encostado na
parede, mas contudo, não deixou de ser o constrangimento logo de cara pra quem
chega na cidade.
A
nossa sociedade infelizmente ainda não está habituado a ver jovens negros, como
Hugo Farias, Eu e muitos outros a estarem numa condição social mais elevada e
com a função social que exige respeito, e antes de saberem quem é cada um nós,
continuaremos a passar por humilhações e constrangimentos.
E
cabe a nós a bater de frente contra o sistema e todo o seu preconceito e
discriminação, seja contra os negros, mulheres e homossexuais, principalmente
aqueles que não são satisfeitos de nos verem nos patamares elevados que pra
eles deveríamos estar na senzala ou abaixo deles, como eu, por exemplo, de
guardador de carros em estacionamento e office boy da prefeitura de São Luís a
professor universitário da UEMA, isto é um insulto e ofensa, mas continuaremos
a insultar e ofendê-los.
Eu
não conheço o Hugo Farias, tenho colegas de faculdade que o conhece, e todos
afirmam que ele tem uma conduta ilibada, e espero que o jovem advogado não
abaixe a cabeça e encare a tudo isso que está passando, porque alguns homens da
guarda municipal devem ter falado algo que o levou a revidar.
Porque
apenas os negros e pobres como nós sabemos perfeitamente o que é passar por
situações quem nem essa que nos coloca muita das vezes como bandido ou mau
caráter perante a sociedade ou a opinião pública, especialmente aos leigos e
desinformado
Um comentário:
Belíssimas considerações, e tristes também, considerando que se trata da realidade que insistimos em não perceber do nosso país que não é homofóbico, não é sexista, não é racista. Mas é o país do futuro... Talvez seja esse o problema, no futuro não seremos mais preconceituosos, nossa desigualdade social vai ser reduzida, nossas crianças vão ficar o dia inteiro em escolas públicas de qualidade e integrais para os pais (gays ou hetero) trabalharem com tranquilidade. No futuro...
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