Entrevista concedida por email a Natan Castro.
Eduardo Patricio é um músico maranhense, de suma importância para a
cena alternativa de São Luís, desde cedo mostrou interesse pela música,
participou de algumas das melhores bandas surgidas no cenário alternativo da
Ilha nos anos 90. Dentre as principais Sarcoma
(Hard/Trash), Samsara (Blues/Rock) e
a mítica Catarina Mina (Pop/Rock).
Atualmente estudando música em Belfast
(Irlanda do Norte), o artista hoje está com um trabalho voltado para a música
eletroacústica. Na entrevista abaixo o artista fala de influências do inicio,
cena alternativa maranhense, fim da Catarina Mina e Joacy James.
Todo mundo que participou ou acompanha o cenário musical de São Luis
dos anos noventa pra cá, sabe da importância de bandas como Sarcoma, Samsara,
Catarina Mina para o surgimento daquilo que ainda nem podemos chamar de cena
alternativa na Ilha, pelo motivo dessa mesma cena ainda não se sustentar. Em
sua opinião qual a importância dessas bandas na atualidade, sendo que em todas
você participou como integrante seja tocando batera ou fazendo os vocais?
Pra ser sincero, nunca vi a coisa por
esse ângulo, dessas bandas terem sido decisivas na criação de uma cena
alternativa. Fico feliz que elas sejam lembradas dessa forma. Sendo assim, e
também pelo fato de não estar morando na ilha desde 2005, tenho certa
dificuldade em dizer qual seria a importância delas hoje. O fato é, nas 3
bandas estávamos sempre tentando fazer um som bacana e tocar bastante. Se isso
causou um impacto mais duradouro e/ou serve de estímulo pra bandas ainda hoje,
fico muito feliz.
Muitas foram as bandas que você criou e participou, esse interesse
por música veio desde cedo ou não? No inicio quais foram as principais
influencias?
A partir dos 4 anos, junto com meu irmão mais velho, comecei a fuçar a
coleção de LPs do meu pai. Passava horas ouvindo, tentando cantar junto,
folheando encartes etc. Meu pai não tinha nada de rock e pouquíssimo de
qualquer música internacional. Eu curtia discos do Agepê, Roberto Carlos, Chico
Buarque e todos aqueles infantis da década de 70/80 (Pirlimpimpim, Balão
mágico, Arca de noé etc.)
A ideia de ir estudar música em Curitiba e logo em seguida na Europa
foi natural ou existiu em algum momento a informação que você poderia continuar
uma carreira musical aqui?
Eu queria ir pra algum lugar. Estava
terminando o curso de Psicologia na UFMA, mas não queria trabalhar na área. Fui
pra Curitiba pra fazer uns cursos de áudio e tecnologia e, depois de uns meses,
acabei me metendo no vestibular de música da UFPR. Daí em diante uma coisa foi
levando à outra. Não tinha um plano (acho que ainda não tenho). Tentei
aproveitar as oportunidades que foram me aparecendo. Tenho que voltar pro
Brasil em 2014 e espero continuar trabalhando com música.
Quem acompanha sua trajetória sabe que você já teve bandas de estilos
variados, como punk, rock, blues, trash metal e o próprio pop/rock o interesse
por musica eletrônica veio depois desses outros estilos ou já existia a
principio?
Sempre gostei de algumas coisas e/ou
sonoridades eletrônicas. Kraftwerk, por exemplo. Clássico! Mas comecei a ouvir
mais e tentar conhecer a história da música eletrônica só por volta de 2002.
Foi quando comecei a considerar o potencial dos recursos eletrônicos pra
experimentação sonora.
No seu ponto de vista por estar a
certo tempo fora dos limites do Maranhão, como você vê o interesse pela musica
produzida aqui pelas pessoas que consomem música no sul do Brasil e agora na
Europa?
Pergunta difícil. Não sei bem. Em
Curitiba as pessoas pareciam não saber bem o que havia no Maranhão, apesar do
esparso e intenso interesse em Tambor de crioula que há na capital paranaense.
No fim das contas, é isso, alguns grupos específicos de pessoas interessadas em
música regional têm interesse e apreço por tambor, cacuriá etc. Aqui a coisa
complica. O Brasil é muito grande e ainda é um bicho desconhecido pra maioria
dos europeus. É difícil saber do Maranhão especificamente. No entanto, a música
brasileira, em geral, soa sempre de maneira distinta por aqui e imagino que
sons do Maranhão poderiam ser recebidos de forma calorosa por muita gente.
Hoje em São Luis existe uma informação meio mítica sobre a Catarina
Mina, as novas bandas sempre falam da Catarina Mina como influência certa. É
para muitos o primeiro esboço de inteligência na cena alternativa maranhense,
sabemos que a banda terminou no meio das gravações do segundo registro, quais
foram os motivos? E qual seu relacionamento hoje em dia com os outros
integrantes?
De novo, fico feliz em saber que meu trabalho ainda ressoa de alguma
forma. É verdade, estávamos gravando um segundo disco (12 faixas se não me
engano). A banda terminou aos poucos, por uma série de motivos, sem a gente
perceber. Simplificando a coisa: era cada vez mais difícil fazer shows na ilha,
principalmente depois da explosão do "forró de fortaleza" etc.
Tínhamos um investimento de trabalho, tempo e recursos muito grande, não dava
pra se sustentar sem shows. Desse modo, cada um foi se voltando a outras
atividades e começando a traçar outros planos que, de uma forma ou de outra,
inviabilizavam a continuidade da banda (Djalma planejando se mudar pro Rio de
Janeiro e eu pra Curitiba são os exemplos mais claros). Foi um fim de banda
diferente pra mim. Sem brincadeira, um dia estávamos juntos, fazendo um lanche
e falando sobre a banda, olhamos uns pros outros e dissemos: "acho que a
banda acabou, né?".
Falo com um certa frequência e
encontro os caras sempre que posso. Sinto muita falta deles.
Estamos nessa semana completando seis anos sem a presença de Joacy
James na militância cultural de São Luis. Em sua opinião o que representa esse
cara e outros como Gilberto Mineiro (Time Rock) e Fred Machado (Backbeat) para
a cena alternativa do Maranhão?
Eu diria que Joacy, assim como outros, é/foi uma figura fundamental.
Perdemos um grande cara! Sem me delongar muito, acho que precisamos de mais
pessoas assim, inteligentes e curiosas, que topem questionar, fazer e
chacoalhar um pouco a nossa querida ilha (que sofre de uma tendência crônica ao
conformismo).
Blog pessoal de Eduardo Patricio
Eduardo no festival FILE HIPERSÔNICA 2011
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