quinta-feira, novembro 29

Nhô Dézio e o Encosto



Nhô Dézio é um matuto Nascido e criado no mato, depois de velho, um dos filhos resolveu leva-lo pra passar uns dias em sua casa para dar um certo conforto ao pai senil. O problema que Nhô Dézio era muito ingênuo, acostumado a vida simples da roça, tudo o que via na casa do filho parecia novidade e lhe causava certa estranheza. 
Mas se tinha uma coisa que fascinava Nhô Dézio, era a televisão. Ele às vezes ficava intrigado de como aquelas pessoinhas cabiam dentro daquela caixa. Se ria sozinho imaginando que se quebrasse o vidro e elas fugissem, seu filho ficaria zangado com ele.
O tempo foi passando e Nhô Dézio foi se acostumando com a televisão e com outro aparelho que ele também apreciava muito: o telefone. Aprendeu a usar e ligava para os parentes, filhos, achava incrível como a voz das pessoas saiam daquela estrovenga.
Certo dia Nhô Dézio ficou em casa sozinho, pois o filho havia saído pra trabalho e só voltaria à noite, mas como o velho já vinha se acostumando com a casa e era ativo, não via problema em deixar o velho em casa. Nhô Dézio ligou a TV e sentou-se no sofá, na televisão passava um programa religioso onde um pastor pregava raivosamente. Falava dos ‘encostos’ e dos problemas que eles provocavam na vida da pessoa.

Nhô Dézio não titubeou, pegou o telefone e ligou pro numero que aparecia na tela.
- Alô! É do moço que resorve o pobrema dos incôsto?
- Sim Irmão! Qual é o seu problema?
- É qui eu tô cuns pobrema cum um incôsto aqui em casa.
- Isso é muito sério irmão!
- E eu num sei? Craro! Desde qui cumeçô, eu vévo chei de dores!
- Conte irmão! Fale que eu lhe escuto.
- Pois iscute intão! Esse tar de incôsto vévi me dano dor de cabeça, dor nas costa, inté passei quase uma tarde intrevado por causa desse mardito incôsto!
- Ta amarrado irmão! Você tem que vim aqui na igreja, pra sessão do descarrego pra gente acabar com esse seu problema.
- Ta certo intão, eu vô e levo o danado do Incôsto pra vocês darem jeito.
- Como? O senhor ta dizendo que vai trazer o encosto?
- Craro! Num é vocês que vão dar jeito?
- Sim, mas como o senhor vai trazer esse encosto?
- Na cabeça, ara! Ou então carrego até aí. Tem argum pobrema?
- Não... bom.. nunca vi algo desse tipo... bem... hãm... mas o senhor é quem sabe.
Nhô Dézio desligou o telefone e sorriu contente, finalmente iria dar jeito naquele problema que lhe afligia.
Na hora marcada, Nhô Dézio estava na igreja, todos o olhavam espantados, enquanto ele adentrava a igreja, se dirigindo ao palco, carregando em uma das mão um grande encosto de cadeira quebrado.

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