Quando entrei na universidade
Escrevi essa crônica.
Que ironia. Torturei-me horas da minha vida
esquentando bunda no banco da escola, do cursinho, de casa. Estudando fórmulas
matemáticas, reações químicas, guerras mundiais, o reino animal e o
diabo escambal! Pra entrar
no sonho de todos os pais com seus filhos: a universidade pública. E agora
corro em direção a parada do busão em ritmo de maratona equilibrando os
enormes livros que peguei hoje na biblioteca pra disputar uma vaga no
transporte coletivo. Faço sinal e pulo na escada com ele já em movimento. É que
o motora não tem muita paciência. Ufa!
Agora tenho que sentar. Descansar os músculos
do corpo fedido. Mas como? Se são Trinta e cinco bancos e eu já devo ser o
centésimo a subir. O busão esta
hiper-lotado. Olho para o
pára-brisa cheio de adesivos descolorados do sol. E me prendo a um deles que
esta escrito: QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA
COM GATO. Reflito alguns segundos. Os degraus são tão duros pra pôr à
bunda. E como minha coluna dói. Sentei. Ufa!
O monstro barulhento de ferro e aço corre o
asfalto esburacado. Treme mais que motor de geladeira de asilo. Como é difícil
respirar aqui dentro. Hei amigo da pra abrir o vidro?O cara me olha com
fisionomia de que fiz pergunta de idiota e resmunga que ta tudo travado. Sinto
uma coisa molenga esfregando em minhas costas. Giro a cabeça. É uma enorme
barriga tentando achar um espaço inexistente dentro do busão. O dono da
barriga constrangido olhando de cima pra baixo me pede calma. Ufa! Acabei de
comprovar uma lei de Newton.
Chegamos a quinta parada. Um terço da galera
desceu. Como o ar melhorou. Já dar pra respirar fundo. Levantar os Braços.
Esticar as pernas...Uma miragem!
Um banco vazio
Ao seu lado esta escrito em negrito e caixa
alta: RESERVADO PRA IDOSOS E GESTANTES. Minha opinião é que estou muito
cansado e não vejo ninguém com a barriga grande ou com mais de 50 anos (qual a
idade de um idoso?). Agora sento. Ufa!
Décima parada. Sobe um velho que mau se equilibra nas pernas. Finjo que não percebo. Mas tá todo mundo olhando pra mim. Uns riem do meu papel de otário. Outros fazem cara tipo: o que esta esperando. Dou uma cutucada no velho e peço pra ele sentar no meu lugar. Ele agradece e diz que deus é pai. Alegria de pobre dura pouca. Mas pelo menos fiz uma boa ação. Um pouco forçada admito. Ufa!
Olha pro
outro lado da roleta. Nem um banco vazio. Mas tem uma linda garota linda,
loira, óculos escuros, e... Sentada! Vou passar e ficar perto dela pra ela se
compadecer e peça os livros. Eta! Meu deus do céu!Cadê meu passe e minha
carteira de estudante? Como é difícil achar a coisas quando procuramos. No
bolso esquerdo não tá. No direito também. No de trás também. A cobradora já
fecha a cara. Já sei! No bolso da camisa. Ufa!
A garota nem percebe minha presença e a
agonia com os livros. Estou me envergando. Daqui a um tempo estou como o
corcunda de Notre Dame. O ônibus dá uma freada violenta. Calculo Um,
Cálculo Dois desabam sobre o colo dela. Xingo o motora. Filho da P****!
Desgraçado! Peço um milhão de desculpas a garota. A culpa não foi minha. E ela
diz bufando de raiva que não foi nada.
Ufa! Acho que ela não vai me dar seu Orkut.
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