“Maravilhoso”, “fenomenal”, fantástico”. Eram o que diziam
de Eutanázio, desde que começara a escrever, seus textos encantavam a todos que
os liam. A maneira canhestra de escrever, o texto, pesado, denso, mórbido,
sombrio, quase selvagem, agradava a todos e rapidamente o elevaram aos mais
altos patamares da literatura. O que eles não sabiam era que aqueles textos que eles tanto
apreciavam, na verdade eram os reflexos da alma amargurada de Eutanázio,
assombrada por seus inúmeros demônios, demônios esses, que ele tentava afastar
escrevendo como um louco, tentando tirar de si um pouco daquela agonia que
sentia e transplantá-la para o papel, na pobre ilusão de se livrar daquilo que
o perseguia.
Enquanto Eutanázio gritava
num pedido mudo de socorro, as pessoas o aplaudiam, alheios aos seus
gritos, exaltando sua genialidade, sem saber que desespero não é genialidade.
Seus livros foram publicados e suas estórias ganharam o mundo, enquanto isso
Eutanázio se afundava mais em seu sombrio mundo particular, longe de tudo e de
todos, isolado, as pessoas achavam um certo charme um escritor recluso de
textos sombrios. Estavam muito longe da verdadeira realidade, nunca entenderam
Eutanázio e seus textos, bebiam da sua agonia, devoravam seus fantasmas a custa
de muita luta pregados com tinta no papel, e isso tudo sem perceber as dores de
quem escrevia... Se desmanchando pouco a pouco a cada estória contada.
Certo dia, estranharam a falta dos textos de Eutanázio, fazia
algum tempo que ele não escrevia nada, não havia mais estória novas...
decidiram então procura-lo. Encontraram-no sentado no escuro, em meio a um
enorme poça de sangue, com os pulsos cortados e um caderno aberto numa pequena
mesa à sua frente, nele, escrito num vermelho vivo do mesmo sangue que alagava
o chão ao redor, tinha a seguinte frase: “Por favor, alguém... façam isso
parar!”
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