Parte II
Ontem
(8 de setembro) São Luís completou 400 anos de Fundação, o governo do estado e
municipal fizeram uma grande festa em homenagem a cidade, com a vinda até de
artista renomados como o “Rei” Roberto Carlos com o patrocínio do governo
estadual e membro da família real do Brasil que reinaram durante o período
monárquico (1822-1889), o Bertrand Orleans e Bragança, a convite do governo
municipal.
Até
o bolo de 400 metros feito para dar aqueles parabéns à cidade, nada contra
essas festividades, mas se analisarmos bem, não temos muito o que comemorar. Há
dois anos atrás a imprensa fez uma festa quando São Luís chegou ao patamar de 1
milhão de habitantes, após uma longa briga do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) e a classe política maranhense, principalmente a de
São Luís, este ano eleitoral eles estão contentes, porque o aumento
populacional dá o direito da Câmara Municipal aumentar a cadeira de
representantes (os vereadores), que atualmente são 21 e vai para 33 no ano que
vem, essa era a briga e interesse maior da classe política.
Há
15 anos a cidade recebeu da UNESCO (Nações Unidas da Educação, Ciência e
Cultura) o título de patrimônio da humanidade por ter a maior concentração de
azulejos e casarões construídos nos séculos XVIII e XIX, que são os períodos
coloniais e monárquicos, principalmente no apogeu econômico.
E é
justamente o centro histórico é que se encontra abandonado, principalmente na
Praia Grande que na década de 1980 no governo de Epitácio Cafeteira (1987-1990)
recebeu o projeto de revitalização denominado de “Reviver” que é hoje chamado
popularmente.
O
projeto de revitalização de fato restaurou e reformou muitos casarões que
estavam abandonados e em ruínas, na qual o próprio governo estadual se
apropriou de muitos prédios na área, mas infelizmente o projeto não foi levado
pra frente pelos próximos governos.
A
governadora Roseana Sarney no seu primeiro e segundo mandato (1995-1998 /
1999 - 2002) fez apenas a manutenção e aperfeiçoamento, no caso colocar lampiões
no lugar dos postes, e toda a rede elétrica da Praia Grande ficaram pelo
subterrâneo e não mais aereamente, colocou as pedra de paralelepípedo na rua
Afonso Pena no lugar do asfalto, mas ficou somente nisso.
Existe
um equivoco por parte da imprensa, classe política e da população em geral na
capital maranhense, de acharem que o centro histórico fica apenas na Praia
Grande até o bairro do Desterro, que fica o Convento das Mercês, e não é como
muitos pensam, o centro histórico da cidade começa pelo Canto da Fabril que
fica o imenso prédio do Ministério da Fazenda que agrega a Receita Federal e
outros órgãos da União aqui em São Luís.
Se
pegarem as fotos da cidade no início do século passado (XX), verão que as ruas
da cidade era toda revestida de pedras paralelepípedos, incluindo as ruas Grande,
da Paz, do Sol, dos Afogados, Rio Branco, do Passeio, Alecrim, São Pantaleão,
Mocambo, do Norte, Santana, Santaninha e muitas outras, incluindo o Canto da
Fabril.
Infelizmente
na década de 1960, o governo municipal na gestão do Epitácio Cafeteira (o mesmo
que criou o projeto reviver) quando prefeito da capital (1965-1968), desfigurou
muitas das ruas que eu citei, tirando as pedras de paralelepípedos e colocando
o asfalto, no intuito de facilitar o fluxo de veículos na cidade,
principalmente de carros.
E
foi justamente no seu governo que deu o inicio da retirada dos bondes na
cidade, principalmente das ruas que eu citei, como a do Passeio, por exemplo,
aí se vê a coincidência, a pessoa que deu o inicio de desconfiguração da cidade
quando prefeito é o mesmo quando governador que criou o Projeto Reviver, que
foi no caráter de revitalização na Praia Grande.
Dos
bondes retirados deu o lugar aos ônibus, que hoje as ruas do centro estão
saturadas com o fluxo de carros e ônibus, já houve muitas discussões e debates
a respeito da retirada de circulação dos ônibus no centro da cidade,
principalmente na Praça Deodoro.
Algumas tentativas foram fracassadas, na gestão do prefeito Tadeu Palácio (2002-2008), foi criado um decreto que alterasse a circulação dos ônibus no centro, que com o decreto os veículos deixariam de circular na praça Deodoro, e o novo trajeto seria o Canto da Fabril até a Camboa, da Camboa a avenida Beira Mar.
Mas
o SET (Sindicato das Empresas de Transportes Coletivos) entrou com uma ação no
TJ (Tribunal de Justiça), e a presidente da época (Etelvina Ribeiro Gonçalves)
vetou o decreto da prefeitura, deixando da forma vigente até os dias de hoje.
A única alteração feita pelo governo municipal a respeito da circulação de veículos no centro da cidade, foi na gestão da prefeita Conceição Andrade (1993-1996) que proibiu a circulação dos ônibus coletivo/itinerário na rua da Paz, praça João Lisboa e avenida Magalhães de Almeida.
Como
se vê, os empresários do transporte coletivo estão pouco se importando com o
valor histórico e cultural tem o centro da cidade, o que importa são os lucros
a custa da precariedade do sistema de transporte público que piora cada vez
mais.
O outro grande problema é a concentração de vendedores ambulantes nas ruas do centro, de uma forma ou outra de maneira direto ou indireto, desconfiguram a paisagem do centro, atrapalham o fluxo dos pedestres e ocupam indevidamente as ruas e calçadas. Nada contra os vendedores ambulantes, que fique bem claro. Mas convenhamos! A ocupação desordenada em ruas e calçadas contribuem para a decadência do centro.
Os
lojistas e donos dos comércios no centro, principalmente na rua Grande tem
também a grande parcela de contribuição a decadência na área, se dependesse dos
lojistas e comerciantes, as pedras de paralelepípedos já teriam sido retirados
há muito tempo e colocariam o asfalto, pois as tentativas de fazerem é que não
faltaram, e não feito porque a imprensa e população não aceitaram e a
prefeitura não cedeu as pressões. Mas muitos dos casarões foram desconfigurados
por esses comerciantes e lojistas no decorrer dos anos.
Os
mesmos são os grandes responsáveis pela sujeira na rua, principalmente com as
caixas de mercadorias que vem em caminhões no fim do dia, e a situação só não é
pior porque os catadores de lixo vem recolher para fazer a reciclagem e os
garis/agentes de limpeza varrerem quando as lojas estiverem totalmente fechado
e os caminhões com a mercadoria terem indo embora.
Sem
contar que no próprio centro da cidade há buracos nas ruas, bueiros entupidos e
falta de água porque o abastecimento feito pela CAEMA (Companhia de Saneamento
Ambiental do Maranhão, antes se chamava Companhia de Água e Esgoto do Maranhão)
é precário. Eu mesmo digo isso porque morei 5 anos no centro, nesse intervalo
foram 9 meses na Praia Grande na rua/beco/escadaria Catarina Mina.
O
abandono dos casarões se dá pelo descaso do próprio governo municipal e
estadual com os prédios no qual são proprietários. Algumas famílias ricas e
tradicionais, incluídos a de políticos que hoje vivem nos Bairros do
Renascença, Calhau e Olho D água, deixaram os casarões e sobrados ao abandono e
ruínas.
A
situação só não está bem pior, porque muitos desses casarões estão sendo
comprados pelos gringos, ou seja, turistas estrangeiros que em grande parte são
europeus, vêem como turistas e acabam se encantando com a cidade, no qual muito
acabam resolvendo se instalar aqui na cidade principalmente no centro
histórico.
Muitos
vêem em busca de oportunidade pelo fato do continente europeu passar por uma
grande crise econômica, para fugir do desemprego e conseqüentemente da
pobreza/miséria, se refugiam pra cá para iniciar uma nova vida, mas com a
quantia de capital que pode ter sido muito anos de economia/poupança. Que aqui
no Brasil pode ser muito dinheiro, ou seja, o pobre ou classe média europeu,
mas rico no nosso país.
E
com esse dinheiro, eles estão investindo na reforma destes casarões no centro
histórico, eu mesmo falo na condição de testemunha ocular, período que morei na
rua São Pantaleão, conheci um gringo que reformou uma casa abandona que fica na
rua Mocambo, a rua transversal da São Pantaleão.
Conheci
um casal de franceses, período que morei na rua/beco/escadaria Catarina Mina
que reformaram um casarão que fica na mesma rua, e o casarão antes era apenas
ruínas que nem sequer havia telhados que desabou naturalmente devido ao tempo.
Eu
mesmo conheci e vi esse casarão em ruínas anos antes de ser reformado, pelo
fato eu trabalhar na prefeitura no Palácio La Ravardiere (sede do governo
municipal), e uso o Beco Catarina Mina como trajeto de ir e voltar do trabalho
há muitos anos.
Quando
morei no beco, o casarão estava em reformas, ouvi conversas através de um
engenheiro e arquiteto por meio de colegas que moravam comigo, que o orçamento
da reforma e restauração estava em torno de 400 mil reais, o casal de franceses
fizeram questão de manter a originalidade do casarão, ou seja, não desconfigou
em nada no casarão, exceto na parte interna que podem fazer as modificações.
Muito dos estrangeiros que vem pra cá como turistas, mas os que acabam ficando na cidade estão comprando os imóveis, mais reformas desses casarões e sobrados podiam ser feitas se o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) não embargasse muitas delas.
Eu
falo isso como testemunha ocular, porque eu conheci o outro francês que é amigo
desse casal que reformou e restaurou o casarão no Beco Catarina Mina, ele por
ser uma pessoa simpática e bem educada, toda semana (as quartas) dava aula de
francês aos meus amigos na residência estudantil (CEUMA – Casa de Estudante
Universitário do Maranhão) em que eu morei.
E
acabamos tendo certa amizade com esse francês, e daí tive informações de um
amigo que estudou francês com ele, que o mesmo havia comprado um casarão
abandonado no centro histórico, tinha um orçamento para a reforma e restauro,
ter dado entrada no CREA – MA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura)
pra que o órgão tivesse o conhecimento da obra no imóvel, e na hora de executar
o que estava na planilha, o IPHAN embargou, ou seja, proibiu a reforma com
alegação de que iria desconfigurar o recinto.
Deixando
o francês irritado por causa da intervenção do órgão federal em vez de
preservar, faz o completo descaso e impede aqueles que querem reformar e
restaurar os imóveis no centro histórico, portanto, o IPHAN tem a sua grande e
imensa parcela de culpa pelo descaso e abandono desses casarões.
E
muitos desses casarões podiam ser reutilizados pelos novos moradores se não
houvesse intervenções e embargos do órgão. Em vez de embargar, porque não
fiscaliza então, se não querem que os imóveis sejam desconfigurados, impõe o
termo de compromisso ao novo proprietário com a presença do integrante do poder
judiciário, um juiz, por exemplo, o que não pode é ver os casarões caírem a
cada chuva que houver na cidade, pondo em risco os moradores, pedestres e a
população em geral.
Uma
coisa eu sempre falo e converso com os amigos meus sobre essa situação, é que
se eu fosse o governante (prefeito ou governador), tomaria medidas mais
enérgicas pra reverter à problemática, uma delas seria é apropriação dos
casarões abandonados e multar os antigos donos, ou os mesmos perderiam o
direito a propriedade.
Proibiria
os ônibus, carros e caminhões de circularem em todo o centro, principalmente na
praça Deodoro, ficariam apenas o carros credenciados a moradores do centro e
aos que trabalham na área, mas com o limite e os horários de circulação, e aos
caminhões seriam de médio e pequeno porte apenas no horário de fecharem as
lojas que geralmente é no fim do dia, pra descarregar as mercadorias.
Instalaria
novamente a circulação dos bondes, principalmente nas ruas Rio Branco e do
Passeio, colocando os bondes pra circular nas principais ruas, incluindo as
praças Deodoro e João Lisboa, tiraria os asfaltos e colocaria as pedras de
paralelepípedo em todas as ruas do centro.
A
situação dos vendedores ambulantes compraria o prédio onde funcionou o extinto
Colonial Shopping que hoje se encontra fechado e abandonado, e faria num centro
de comércio popular para abrigar todos os ambulantes, dando a eles as melhores
condições de trabalho, tirando-os na clandestinidade, e outros casarões
abandonados seriam usados pra implantar o centro comercial aos ambulantes.
Isso
é uma realidade em muitas cidades, numa delas é Teresina – PI e Fortaleza – CE,
com a estrutura semelhante à de um shopping com direito até ao elevador, como
no Mercado Central em Fortaleza por exemplo.
Faria
os centros comerciais para abrigar os ambulantes com os mesmos moldes, com o
intuito de retirar todos os ambulantes das ruas e calçadas no centro histórico.
Os
casarões seriam usados para as moradias populares a pessoas que vivem de baixa
renda, construiria mais museus, galerias de arte, teatro, cinema e outras finalidades
culturais para dar vida ao centro e motivar a vinda de visitantes e moradores
na cidade, inclusive nos finais de semana, tornando-se o local de lazer e
atividades culturais.
Proibiria
a colagem de adesivos, cartazes ou qualquer propaganda que degrada os casarões
em todo o centro, a prova disso neste ano de eleição é ver milhares de cartazes
de candidatos colados nas paredes, principalmente as que estão revestidos de
azulejos. Esses candidatos não mereciam ter o voto dos eleitores e deveriam ser
multados ou ter a sua candidatura impugnada.
Mas
infelizmente os eleitores ludovicense agem com indiferença e o TRE – MA
(Tribunal Regional Eleitoral) faz vista grossa a essa situação feita pelos
candidatos.
Com
essas medidas, com certeza o centro histórico teria uma nova paisagem, mas
infelizmente o poder municipal, estadual e federal não tem compromisso e nem
sequer interesse de fazerem.
Enquanto
isso, o centro histórico se agonia e resiste ao tempo e ao descaso do poder
público e da própria população ludovicense que não dá o devido valor a que nós
temos.
São
Luís não é digna de ser o patrimônio da humanidade com a classe política que
nós temos, com a população que não reconhece o valor histórico, arquitetônico e
cultural.
Se a
UNESCO um dia tirar de São Luís o título de patrimônio mundial, eu serei um
único ludovicense que ficará feliz com a medida tomada. Porque eu tive a honra
e o privilegio de conhecer outras cidades históricas que são tombadas pelo
IPHAN e a UNESCO, como o Salvador – BA, São João Del Rey – MG e Tiradentes –
MG.
Essas
cidades têm os mesmos problemas que existem aqui em São Luís, mas em
contrapartida, há um zelo enorme por parte da população e do poder público de
certa forma, principalmente as duas últimas citadas que ficam em Minas Gerais,
mesmo com o certo descaso que possa haver do poder público municipal, estadual
e federal, mas a própria população faz questão de preservar a história dessas
cidades que são também a história do Brasil, no fato de terem sido a região
aurífera no período colonial.
Todas
as ruas são revestidas com pedras paralelepípedos e cantarias, praticamente
todos os casarões são usados para moradia ou atividades culturais, como museus
e antiquários (lojas que vende objetos antigos), por exemplo. Praticamente não
se vê pichações e o uso de adesivos e cartazes ou propaganda irregular nos
imóveis. São pequenas medidas feitas pela população local que faz a grande
diferença.
Enquanto
aqui em São Luís o que se vê é o contrário, uma total e completa desordem na
região do centro histórico da cidade, onde se vêem pichações, colagem de
adesivos, cartazes e propaganda irregular, carros que circularam indevidamente
nas ruas que não deveriam circular, no caso na Praia Grande em que há pilares
com formato de pênis com as correntes pra impedir o fluxo de carros, mas que
infelizmente não é respeitado.
Mediante
a essa realidade catastrófica, devemos realmente comemorar os 400 anos de São
Luís?
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