Logo a blazer aparece,
estaciona, os Outros descem dela e se dirigem ao banheiro, foi aí que Miguel
disparou uma primeira rajada de uzi, traiçoeira, pelas costas, derrubando logo
três de uma vez, o chefe da matilha entre eles. O azarão que escapou da fúria
balística de Miguel entrou no banheiro, e, logo em seguida, Miguel pôde ouvir dois
disparos, após o quê, silêncio total. Miguel saiu cuidadosamente de trás do
carro, dirigindo-se ao banheiro, mas, no caminho, não pôde evitar de
descarregar mais uma rajada de balas em cada colhão de policial tombado que viu
pela frente, e não venham inferir desse pela frente que o policial que caiu de
bruços escapou de ter seus ovos estraçalhados pelo chumbo grosso, pois Miguel o
virou de costas com o pé.
– Isso é para garantir
que, quando chegarem ao inferno, vocês não fodam mais ninguém, seus bando de
féla da puta do caralho!
Miguel então se move
silenciosamente rumo ao banheiro, se agacha junto à entrada do mesmo e tenta
escutar, mas o silêncio é tão espesso quanto a escuridão que emana de lá de
dentro. Miguel então diz em pensamento, “que se fôda!”, e entra, mas, mal ele
põe o pé dentro do banheiro, uma bala lhe atinge o peito direito, e por pouco
não lhe perfura o pulmão. Ele geme de dor e cai contra a entrada do cômodo,
xingando baixinho “porra, porra, porra!”, tira o isqueiro de dentro do bolso, acende-o
e joga-o para dentro do banheiro, a chama fraca e bruxuleante é suficiente para
que Miguel perceba o ambiente sanguinolento à sua frente, um dos policiais do
mal jaz com a cabeça estraçalhada por uma bala de trinta-e-oito enquanto Égido
está recostado junto à parede embaixo da pia, segurando fracamente na mão caída
sobre a coxa direita o trinta-e-oito com duas balas a menos, uma que havia
entrado pelo olho no cérebro do outro policial, e a outra que é nenhuma outra
senão aquela que entrou pelo peito direito de Miguel e quase lhe perfurou o
pulmão. Miguel imediatamente percebe o que aconteceu, e, de onde está, diz:
– Égido, não atira, sou
eu, porra, os Outros morreram.
Silêncio.
– Égido!
Nada.
Só a estática do rádio da
viatura ecoando ao longe.
Miguel então larga a arma,
se levanta e vai até Égido.
– Cara, fala comigo!
Ao pegar nele, suas mãos
sentem o sangue que escorre do peito do soldado. Ele pega o isqueiro e põe a
chama na frente da boca de Égido, a respiração fraca do soldado faz tremer a chama.
– Ainda vivo!
Miguel o arrasta com
dificuldade até a viatura, senta no banco do motorista, dá a partida, tem
dificuldade em engatar a primeira por causa do ferimento no peito, mas esquece
a dor e acelera, deixando para trás o lixo que seria recolhido pela manhã por
policiais indignados com o que seria chamado pelos jornais de Carnificina no Campus, Extermínio de Policiais, P.M.’s Chacinados, etc. Ele dirigiu rumo
à saída da cidade, queria chegar ao sítio do avô, onde sabia que teria guarita
e cuidados para ele e Égido, sem questionamentos. Ele tinha a cabeça de Égido
deitada sobre suas coxas, e cantarolava uma canção em inglês, que dizia algo
como “sim, eu morreria por você, essa é a vida que eu quero, estou aqui pra te
acompanhar no caminho, te contar o que esses olhos viram, mas o que eu quero
mesmo é transformar em movimento a beleza da qual eu possa abusar, você sabe
que eu também sei usar meus sentidos, você pode ver, pois está em toda parte,
eu pego tudo, mas depois divido a minha parte, vamo nessa, vem comigo, só nós
dois, vagueando juntos por aí, não tem que pagar nada, sim, eu morreria por
você, o que você vai fazer?, essa é a vida que eu quero, vem, meu bem, e me diz
aonde você quer ir, como é importante pra mim ficar a sós contigo!, fecha a porta
e ninguém tem que saber como a gente tá, vamo nessa, vem comigo, só nós dois,
vagueando juntos por aí, não tem que pagar nada, sim, eu morreria por você, o
que você vai fazer?, essa é a vida que eu quero...”, enquanto acariciava a
cabeleira aparadinha do soldado, que, a uma certa altura, abriu os olhos e
disse alguma coisa que Miguel não conseguiu ouvir.
– O quê? – perguntou
Miguel enquanto abaixava sua cabeça para perto da boca de Égido, desviando sua
atenção do tráfego: – Fala, meu bem.
Égido então repetiu o que
havia dito:
– Valeu a pena.
E completou, após uma
pausa: – Tô esperando você do outro lado. Miguel continuou dirigindo, mas já
não sabia mais para onde ir. Como estava perto da praia, entrou na primeira
saída que viu e se dirigiu ao mar, “schwere See, schwere See, mein Hertz!”,
enquanto Égido perdia os sentidos em seu colo. Na manhã seguinte, a rotina
tediosa de uma colônia de pescadores foi inesperadamente agitada pelo achado
inusitado, na beira da praia, de um carro, que a maré, enchendo, já começava a
engolir. Era uma viatura modelo corsa sedan e dentro dela havia o corpo morto
de um soldado da polícia militar.
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