Aquela
vontade insistente de sair pra sambar, cometer um desatino e experimentar um
amor de carnaval é narrado pelas letras e pelo violão de Adriana Calcanhotto no
disco O Micróbio do Samba (2011).
Bichinho danado, cheio de ritmo, que incentiva os sentidos para cantar o mesmo
tema de sempre: o amor e suas desventuras brejeiras. O micróbio multiplicou-se
rápido e, antes mesmo de ser lançado, já era motivo de comentários,
expectativas e boas críticas dos ouvidos mais atentos espalhados nas redes
sociais.
Inevitável não criar uma expectativa de um disco parecido com os transambas de Caetano Veloso nos mais recentesCê e Zii&Zie (e que já vinha sendo experimentado desde o Noites do Norte), ainda mais pelo fato de Caetano ser referência, de Moreno Veloso ser uma companhia constante ou distante nas últimas obras da cantora e de que o samba tornou-se um fetiche de mercado. Hoje, o samba é marca de sucesso. O desafio agora é apresentar essa mesma base sonora legitimada pela tradição e memória com uma linguagem particular. Ouso mesmo dizer, com saliência, que um novo gênero esta aí: o samba cool Samba desconstruído pela experimentação estética de arranjos que tomam a base rítmica e se refaz ao som de guitarras, baixo, piano e outros instrumentos.
Artista que se reinventa merece palmas. As minhas não ressoaram da última vez que Adriana Calcanhotto esteve no palco de São Luís, em fevereiro, apresentando-se pela turnê de Trobar. Naquele show, não ouvi nada que me inquietasse o espírito e comprovasse o desafio da cantora em experimentar. Problema meu de expectativas que entendeu metade do show como oportunismo. O cenário estava lindo, com cores quentes, vibrantes, que pediam uma sonoridade avessa ao que se entende por "intimista". Junto dela, a presença e o violão de Davi Moraes, virtuose no instrumento, mas que, naquele instante, parecia mais um adereço de cena. A minha frustração permaneceu incompreendida até o instante em que o micróbio tomou conta de mim e respondeu a minha angústia: naquele show, faltou o violão tocado pela própria cantora.
Mas ele está no disco, realçado com o contrabaixo elegante de Alberto Continentino, a percussão lúdica e vocal-pastoril de Domenico Lancelotti e os aparecimentos festivos e intrometidos de Davi Moraes, Rodrigo Amarante e Moreno Veloso. Vale ressaltar o importante trabalho do produtor do disco, Daniel Carvalho, que é filho do músico Dadi (baixista da banda A Cor do Som) e que já estava na equipe técnica da gravação do DVD Noites do Norte, de Caetano.
Torno a repetir: o violão de Adriana é a alma do disco, melhor, o micróbio. Assim, como é a bateria de Marcelo Callado nos transambas de Caetano. É por ele que se entende a narrativa melódica de Adriana. De Maré até agora. ARadiouol disponibilizou o disco inteiro para audição. E no meu celular, Tão Chic já virou ringtone.
Um comentário:
Irei atrás pra prestar atenção no violão Cool de Adriana. Muito bom Alberto.
Natan Castro.
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