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Todo
domingo eu viajo a Balsas – MA, pra lecionar na Universidade Estadual do
Maranhão através do Programa Darcy Ribeiro pelo curso de História as segundas e
terças a noite na instituição da cidade.
Numa
dessas minhas viagens a cidade e observando bem (que de interior mesmo não tem
nada, diga-se de passagem), é uma espécie de eldorado, por ser uma grande
produtora de soja voltada pra exportação em que o agronegócio corre a todo
vapor, atrai muita gente de fora.
No
hotel em que eu hospedo que fica no centro da cidade e bem perto da UEMA, já
conheci piauienses, tocantinenses, goianos, pernambucanos, gaúchos... O povo da
cidade tem hábitos de quem vive em grandes cidades – metrópoles, eu me sinto
como se estivesse em outro estado, e eu ainda saliento em dizer que maranhense
não existe, os maranhenses que vivem na cidade, são descendentes de sulistas,
maioria gaúchos que vieram entre as décadas de 1960 e 1970 em busca de terras
devolutas ocasionado pela política e Lei de Terras no Governo José Sarney
(1966-1970) e seguidos por seus sucessores, porque maranhenses mesmo natos e da
gema, são bem minoria.
Numa
dessas observações minhas, vi que a população não depende muito dos ônibus que
circulam da cidade em virtude da motocicleta ser o principal meio de
deslocamento, e a facilidade de adquirir através das concessionárias /
revendedoras.
E na
necessidade de eu ir à rodoviária pra comprar as passagens de ida e volta com
antecedência para evitar transtornos, eu peguei num desses ônibus que rodam a
cidade, vi o quanto é prazeroso, o veículo roda a cidade constantemente vazio,
quase sem nenhum passageiro, a tarifa custa R$ 2,20 (Dois reais e vintes
centavos) que se for analisar bem, a tarifa pode ser cara, mas é justificável
em razão da população não depender diretamente dos ônibus como foi citado os
motivos anteriormente.
Ao
pegar num desses ônibus, havia somente o motorista exercendo a função dupla, a
de motorista e cobrador, porque há a catraca, mas não o cobrador mesmo de fato,
ônibus completamente vazio, havia eu, um adolescente e o senhor de idade no
coletivo, olhei para trás, vi somente os assentos todos vazios.
Senti
uma sensação prazerosa que há muito tempo não sentia, andar de ônibus, pude
conversar tranquilamente com o motorista, mesmo sendo proibido em razão de
poder tirar a concentração dele, e nessa conversa perguntei a ele quantos
ônibus circula na cidade, e ele me disse que circula somente dois, e que antes
eram 3, diminuiu em razão da população na cidade depender mais de moto e a
facilidade em obter uma motocicleta, em função disso circula somente dois.
E
perguntei se o ônibus vive vazio, o mesmo me disse que sim, mas entre o fim e o
início de cada mês o ônibus fica cheio (com certeza não como fica os ônibus
aqui em São Luís em que não há o milímetro de espaço e você viaja todo
espremido) em razão do pagamento da prefeitura e do INSS (Instituto Nacional da
Previdência e Serviço Social), e a maioria são os idosos que utilizam os
ônibus.
E o
detalhe, os idosos não utilizam o direito garantido por lei, que é a gratuidade
nos transportes coletivos na idade acima dos 65 anos, porque ao conversar com o
motorista durante o trajeto, eu vi uma senhora subir para adentrar no ônibus e
pagar a tarifa (R$ 2,20).
Pode-se dizer que os estudantes não têm direito de pagar a meia passagem de acordo com a lei vigente, em razão disso, a lei da meia passagem e gratuidade nos transportes coletivos deveriam ser federalizadas e sob fiscalização dos órgãos federais e não nos municípios, porque isso é bastante comum nos interiores, em que os estudantes e idosos pagam a passagem inteira como todos os passageiros, porque fiscalização praticamente não existe e muitos dos estudantes e idosos principalmente, desconhecem de seus direitos garantidos por lei.
A
cidade tem apenas uma única empresa que circulam os seus dois ônibus, é a
Transporte Solução LTDA., os restantes de seus ônibus prestam serviço à
prefeitura de Balsas para o transporte escolar dos estudantes que estudam ou
moram em áreas rurais e moram longe de suas residências. Todos os veículos são
velhos que possivelmente passam por manutenção de forma precária.
E
durante o trajeto, pude conhecer melhor a cidade de Balsas, vi que realmente é
uma cidade diferenciada em relação as demais cidades maranhenses, o progresso
por causa da produção de soja e do agronegócio se vê em comércios como o
Mateus, Liliani, Paraíba, O Boticário, Cacau Show, Lacqua de Fiori e muitas
outras grandes marcas de fama regional, nacional e internacional. Tem tudo para
que a população não precise se deslocar para outra cidade, pelo contrário, são
os municípios vizinhos é que vão a Balsas resolver os problemas, seja sacar ou
depositar dinheiro num banco, por exemplo, mas como disse o taxista quando eu
fui a cidade pela primeira vez pra iniciar a minha carreira de docente, numa
frase sua que é muito procedente que nem um doutor, pós – doutor ou Phd da vida
pode contestar.
“Aonde
vem o progresso, vem à miséria”.
Isso
é mais pura verdade, e vi isso durante o trajeto que eu fiz de ônibus, ruas sem
asfalto e sem rede de esgoto adequado, com pedra e piçarras, e sendo que
algumas são praticamente intrafegáveis em virtude de imensas crateras no meio
da rua que impossibilita a passagem até mesmo de veículos grandes e pesados.
Esgotos correndo a céu aberto sem nenhum tratamento.
Conhecendo
melhor o progresso da cidade em que a população vive nela e se orgulha em dizer
que é o lugar que “corre dinheiro”, mas em contrapartida, não é bem assim como
disse o taxista, porque Balsas está passando a viver os mesmos problemas das
grandes cidades – metrópoles, assaltos, roubos, furtos, muita pobreza, desemprego
(visto que a cidade não consegue mais agregar todas as pessoas que vem de fora)
e não confiar principalmente os que vem de fora.
O
passeio pela cidade a ônibus me deu a sensação que há muito tempo não sinto
aqui em São Luís, porque pra mim andar de busão é teste de paciência, e isso
pra mim está se esgotando, em razão disso sinto a necessidade de ter um carro,
nem que seja a médio e longo prazo.
Ao
contrario lá em Balsas, andei de ônibus tranquilamente sem ser incomodado,
ninguém pisou no meu pé, ou eu pisei no pé de alguém e depois pedir desculpas...
Ninguém ficou do meu lado, pude tranquilamente sentar e olhar pela janela a
cidade por onde eu passava ao longo do trajeto. Não houve passageiros chatos e
zuadentos, principalmente aqueles que fica sentado do seu lado. Não houve
vendedores de bombons que ficam falando alto e lhe perturbando no intuito de
você comprar nem que seja a contragosto (nada contra os vendedores que fique
bem claro, mas convenhamos, tem uns que são insuportáveis, quem nunca foi
incomodado? Quem nunca comprou a contragosto o bombom ou uma bala só pra se
livrar deles?) e até mesmo aqueles pastores/profetas de igrejas evangélicas que
vêem com a mesma história com discurso de “salvação” e “vida eterna” numa
lavagem cerebral pra você “aceitar Jesus” ou malandro/cachaceiro disfarçado de
mendigo que vêem com aquelas histórias também de sempre (tipo: que foi
assaltado, que tem 5 filhos e está desempregado e passando fome e/ou não tem
dinheiro suficiente pra voltar ao interior e tá perdido e desamparado na cidade)
que todos nós conhecemos.
Nada
disso eu passei, viajei de busão na maior tranqüilidade sem ser importunado,
conversei amigavelmente com o motorista (mas o mesmo ficou me devendo R$ 0,05
(Cinco centavos) na ida quando fui a rodoviária comprar as passagens de ida e
volta com antecedência, rsrs, ao dar a ele R$ 2,25(Dois reais e vinte e cinco
centavos) e não recebi o troco)e me explicou o sistema vigente de transporte na
cidade.
Mas
valeu a pena e foi muito prazeroso em andar de ônibus, a ponto de você nem se
importar com as condições do ônibus, se está sujo ou não os assentos, se está
ou não bem conservado, se passa ou não por uma boa manutenção. E o melhor, você
não sente inveja em ver uma burguesinha/patricinha ou mauricinho/pau no cu
andar de carro e desfilar na cidade e nem mesmo aqueles que andam de
motocicletas, você se sente diferenciado porque não está conduzindo nada, pelo
contrário, está sendo conduzido. E quem não gosta de ter alguém que lhe conduza
para o determinado lugar? Porque vocês acham que existem motoristas, taxistas,
mototaxistas, fretista, caminhoneiros, motoboys ou outras pessoas do gênero que
trabalham na condução de mercadorias/ produtos e/ou pessoas? Porque os ricos,
autoridades e chefes de estados fazem tanta questão de ficar no banco traseiro
e ser conduzido por um motorista particular num carro de luxo? Andar de ônibus
é também um imenso prazer, e o melhor, sem ninguém pra você dividir o mesmo
espaço num coletivo.
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