Menina mulher ou Mulher
menina, com olhar indeciso, esta era Safira. Nome pelo qual o mundo havia lhe
dado devido às circunstâncias imateriais da vida, habitava em seu coração os mais
loucos sentimentos humanos, que rodeavam o sentido da razão, impregnavam os
desejos da alma. Quem não se recorda de Safira? Que até ontem entre nós esteve.
Quem não presenciou seus deliciosos momentos! Nada no mundo retrata com tanta
veemência a constante substancial do destino desta mulher menina e da menina
vivente no corpo de mulher.
Durante muito tempo recordo-me
o mistério que rodeava sua fase, de poucas palavras creio que ela talvez
acreditasse que ouvir é o ouro e falar seria a prata, levando-se ao pé da palavra,
só e a si mesma batava. Morava aos fundos de um cabaré, um dos mais
freqüentados da cidade, dinheiro, luxo, orgias, escândalos, tudo permeava o
ambiente, em meio a tanta repressão, a felicidade estava ao escondido, era
o que se via no contexto da memória. O quartinho estreito guardava a vontade de
dançar, pairar pelo éter, subir ao palco e transforma-se em purina que brilha
no corpo da bailarina e abala o amor de quem a ver, entretanto a angústia
equilibrada pela paixão fazia-lhe ter os pés voltados para liberdade, liberdade
de sair daquele lugar tomado por ilusões, de viajar pelo mundo com sua polêmica
e verdade, mas nada era tão natural quanto sua paciência, assumia calado os
erros que não cometia, deixava-se abusar em troca de alguns trocados que
sustentavam o conhecimento de novas criações. E chegou a chance! O grande dia
de vermos Safira brilhar, não se sabe eventualmente de que forma uma simples
servente de cabaré se apresentaria em um palco luxuoso, talvez a servidão como
bailarina desviasse seu destino do terrível abuso por trocados que se
ressaltavam pelas escadarias e percorriam os corredores lagrimais de saudade,
da vida na qual não sabia se queria. Mas se fosse fugir do mundo, do próprio
mundo seria, nada deixaria de fazer e
viver intensamente cada momento de sua vida, a mesma não saberia.
É o dia, a grande hora, Safira
sobe ao palco, pouco desajeitada conturbada com o momento, com o publico nada
agradável cansado de tanta libertinagem observam em Safira a mudança,
reconhece-lhe o talento e a presença da partitura de sentidos de uma deusa
envolvente. Safira não pára na vida, só para criar, não tem medo de encarar as
pessoas.
E foi assim, eu ali sentado ao
fundo da pobre platéia deixei-me envolver pelo mais louco amor que pude sentir,
olhar envolvente, imaginei meu corpo junto ao dela que bom seria se a
possuísse, linda! Nascida para está entre as mais lindas era o que sabia de
melhor fazer, eu quero, meu coração dizia, está ao seu lado, dentro dela,
somente com ela; uma paixão súbita e platônica me consumia aos poucos ao ver
seus movimentos sedutores como se estivesse na janela chamando-me ao encontro
do seu amante,e foram-se as noites; uma após a outra e em seguida uma após uma,
por dias e dias, me enlouqueci e descobri em seus olhos o espelho da
alma,contudo inconscientemente a chaga do ciúme doentio inclinava-se perante a
mim e nada me fazia retroceder, meus presentes eram devolvidos, meus recados,
juras de amor eram colocadas ao lado o que fazia nada lhe agradava.Outro! Minha
mente gritou se diante de tanta paixão meus sentimentos não poderia está
largados ao vento, outro! Novamente minha mente gritou só que mais forte Outro!
Outro! Outro! Não deixava de crer em tal possibilidade, quem seria tal outro a
tomar meu lugar, Não me dei por vencido minha presença fazia-se presente ao
olhar de Safira. Decidir a morte como solução, Se não fores minha de nenhum
outro mais alguém será. Em uma de suas ultimas apresentações Safira seduz
platéia com o brilho de seu nome, mas não adiantava cada momento o ciúme me
permeava o sentido.
Acabada a apresentação sigo–a
até seu quarto, pelos estreitos e longos corredores, andava como se caminhando
para o seu céu, seu paço curto e suave dava brilho ao chão. “tão inocente” –
Pensei! E chegava-se a ultima escada que antecipava seu misterioso quarto.
Incrível era que não me percebia, abriu a porta do quarto e sentou-se a
penteadeira, observei-a pela porta entreaberta, penteava seus cabelos com
carinho, mas nada me fazia esquecer-se de meu planejamento. Só a morte seria a
solução, mesmo sem ter a certeza de seu prazer já estivesse em outros braços, à
vingança vinha átona como um prazer bebido em vagarosos tragos. Seu olhar
encontrou o meu pelo reflexo do espelho, não tive pena, ergui o punhal escondido
na mão, a serenidade de seu semblante me fazia desistir, não esmoreci, em um só
golpe atravessei-o com tanta força, ela não resistiu, mas o normal seria que
sangue viesse descer ao chão, mas não, de sua garganta surgiam rosas de todas
as cores, rosas, rosas e mais rosas percorriam todos os corredores deixando
seus perfumes nas paredes e pouco a pouco ela desaparecia.
O relógio despertou, em um
pulo cai da cama, era um sonho, quase real era ainda um sonho, devagar tentei
entender em meu estreito quarto de cabaré o que me fazia ter tal lembrança? Como
presente mulher aparecia em meus sonhos? Em um súbito susto observei que ao
lado de minha cama havia um bilhete, dentro do bilhete um pétala de rosa com o
aroma de retroceder os sentidos e parar no tempo. Ainda molhado com as lágrimas
de sangue estava escrito;
“Nunca fui de ninguém, só tenha a mim. Estamos nessa vida para nos
tornarmos, talvez quem sabe, mais humanos” (Safira).
Ano
de 2009
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