Sentado numa feira em Camocim esperando a jardineira, um meio de transporte rústico (pra não dizer uma 4x4 dos antigos toda adaptada) cearense, em direção à praia de Jericoacoara (onde uma máfia de italianos movimenta a economia local vendendo pizzas e cocaína nos reustaurantes e promovem o turismo sexual das mulatas nativas fortalecendo o mercado ascendente das farmácias com propagandas de Viagra bem na porta).
Havia um grandalhão alemão também esperando comigo e acabamos trocando ideias em português. Falou de sua profissão que estava dando um volta pela América Latina que era economista num acento brusco. Deu uma hora e a jardineira nada de aparecer. Fui perguntar o que estava acontecendo para um homem alto negro e magro que trabalhava com o serviço de transporte (nos reconhecemos pelo nosso acento e o jeito peculiar da gente). Era um maranhense também só que em terras cearences. Sorrimos. disse que sentia saudades da ilha. Do reggae. Falamos do Sampaio, Moto Clube, e outras besteiras e acabei indo tomar um banho em sua casa conhecendo sua esposa e filhos e fumando um cigarrinho com ele. Deram duas, três horas e nada da jardineira. Mas enfim o porquê do atraso? E ele respondeu que era em razão de um defeito no motor da jardineira. E o alemão já tinha almoçado tirado fotos da feira, peixes, coisas exóticas, uma janela o mar e acho que da cidadizinha toda e começou a esbravejar no seu acento brusco pro maranhense:
“tempo é dinheiro”
“tempo é dinheiro”
Numa clara tradução do jargão time is money dos anglo-saxônicos que é utilizado por nossos brasileiros yuppies também. O maranhense ia e voltava e não sabia o que fazer. Tonto. Ligava pra oficina pro chefe pra deus e meu deus! Nada de a jardineira aparecer e o alemão continuou reclamando estufado cheio de protetor solar:
“tempo é dinheiro”
Eu já tava com raiva dele e perguntei se tinha lido algum escritor brasileiro ou latino americano. Ele disse que não. E num ímpeto tirei da mochila Eduardo Galeano. Mostrei pra ele e disse que era pra ele ler aquele cara. E que o Brasil era isso e fazia parte da nossa cultura o atraso e a hospitalidade e um bando de coisa. Não éramos britânicos poxa. O alemão se calou e não falou mais comigo. E o maranhense ainda disse injuriado: “Se tiver afim vai, senão fica ai! Porra.”. Aí o alemão gelou. Sujou a cueca. Diminui de tamanho. Devia ter visto o belíssimo pôr-do-sol e a pedra furada de Jericoacoara em alguns dos seus guias turísticos europeus. E saber também que brasileiros comentem assassinatos. Não podia perder esse passeio. E depois de mais um pouco de tempo a jardineira chegou e fomos embora com aquela besta deutsche.
Diego Pires
4 comentários:
foda-se os gringos
"besta deutsche" tu é uma graça.
Diego teu jeito de escrever é um confundivél..Cris!
tempo é tempo, com ou sem dinheiro, o que importa mesmo é aproveitá-lo, de uma forma ou de outra.
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